A concessão da BR-364 em Rondônia representa um marco para a infraestrutura da região Norte, mas chega envolta em controvérsias que merecem análise aprofundada. O leilão da rodovia que acontece hoje, atraiu apenas um consórcio interessado, o que evidencia tanto o desafio de atrair investimentos para regiões mais remotas quanto a complexidade do projeto.
Os R$ 10,2 bilhões previstos em investimentos ao longo de 30 anos prometem transformar os 721 quilômetros da rodovia com duplicações, faixas adicionais e novos acessos. Essa infraestrutura é vital para o escoamento da produção regional e pode representar um salto significativo na competitividade econômica do estado. Entretanto, não podemos ignorar as vozes críticas que se levantam contra o modelo proposto.
O valor estimado dos pedágios — R$ 100 para automóveis no trecho completo e alarmantes R$ 1.600 para caminhões de oito eixos em trajeto de ida e volta — representa um custo considerável para os usuários, especialmente em uma região onde a rodovia é praticamente a única opção de deslocamento.
As denúncias formalizadas pelo Crea-RO ao MPF e TCU levantam questionamentos legítimos sobre a transparência do processo. A alegada falta de participação efetiva da sociedade nas audiências públicas e a exclusão de cidades impactadas nas notificações sugerem falhas procedimentais que comprometem a legitimidade do processo.
Os alertas da Associação Comercial e Industrial de Ji-Paraná e da Associação Comercial de Rondônia sobre os impactos econômicos dos altos pedágios não podem ser menosprezados. Em uma economia fortemente dependente do transporte rodoviário, o aumento significativo nos custos logísticos pode comprometer setores inteiros.
Por outro lado, a posição da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia traz um contraponto válido. A degradação contínua da rodovia também representa um custo invisível em termos de segurança, tempo de transporte e desgaste de veículos. A manutenção permanente e as melhorias prometidas pela concessionária podem, no longo prazo, compensar parcialmente os custos dos pedágios.
A concessão da BR-364 ilustra o dilema brasileiro de infraestrutura: como viabilizar investimentos necessários sem sobrecarregar os usuários? O modelo precisa equilibrar a atratividade para investidores privados com tarifas justas e compatíveis com a realidade econômica local.
O desafio agora é garantir que, uma vez concretizada a concessão, haja fiscalização rigorosa do cumprimento dos investimentos prometidos e um canal permanente de diálogo com a sociedade rondoniense. O sucesso deste projeto dependerá não apenas das obras físicas, mas também da capacidade de integrar as preocupações legítimas da população às decisões da concessionária.
Diário da Amazônia