O Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, exige uma reflexão profunda sobre a situação feminina em Rondônia, para além das homenagens protocolares e discursos que ocultam uma realidade alarmante. Os dados oficiais revelam um cenário perturbador: nosso estado apresenta índices de violência contra a mulher sistematicamente acima da média nacional, configurando uma crise humanitária silenciosa que se desenrola cotidianamente.
Nas áreas rurais e comunidades ribeirinhas, a situação é ainda mais grave. O isolamento geográfico, a carência de equipamentos públicos e a distância dos centros de atendimento transformam-se em barreiras quase intransponíveis para mulheres em situação de violência. A ausência do Estado nessas localidades perpetua ciclos de abuso que se estendem por gerações.
A desigualdade salarial também persiste como realidade incontornável. As mulheres rondonienses, especialmente negras e indígenas, enfrentam dupla discriminação no mercado de trabalho, ocupando majoritariamente posições precárias e mal remuneradas. Esta disparidade econômica limita a autonomia feminina e cria dependência financeira que muitas vezes impede a ruptura de relacionamentos abusivos.
O sistema de proteção às mulheres em Rondônia, apesar de avanços legislativos recentes, continua fragmentado e insuficiente. Faltam delegacias especializadas na maioria dos municípios, casas-abrigo em número adequado e programas de apoio à independência econômica das vítimas. A rede de atendimento, quando existe, opera frequentemente no limite de sua capacidade, resultando em atendimentos apressados e encaminhamentos ineficazes.
A crueldade dos feminicídios no estado revela não apenas crimes isolados, mas o fracasso de uma sociedade em proteger suas mulheres. Cada caso noticiado expõe falhas sistemáticas na prevenção, no acolhimento às denúncias e na punição adequada dos agressores. O sistema judiciário, ainda permeado por visões estereotipadas, frequentemente revitimiza mulheres que buscam proteção.
É urgente transformar indignação em ação concreta. A sociedade rondoniense precisa enfrentar suas contradições e reconhecer que a violência contra a mulher não é questão privada, mas problema público que exige intervenção estatal e mobilização social. Precisamos de políticas públicas, orçamento adequado e fiscalização permanente de sua implementação.
Este Dia Internacional da Mulher deve marcar uma mudança de postura. Não bastam flores e homenagens se, no dia seguinte, continuarmos ignorando os gritos de socorro que ecoam em todos os cantos do estado. A verdadeira celebração virá quando cada mulher rondoniense puder viver com dignidade, autonomia e segurança, exercendo plenamente seus direitos de cidadã.
Diário da Amazônia