A porta do Brasil está aberta
Divulgação: Casa Branca
O governo brasileiro tem adotado uma postura cautelosa diante das deportações de cidadãos brasileiros pelos Estados Unidos, mesmo que isso tenha ocorrido de forma desumana — com pessoas algemadas e acorrentadas, entre outros maus tratos relatados.
O presidente Lula e sua equipe evitam transformar o episódio em uma crise diplomática, econômica ou política com os EUA. Essa prudência se deve, em parte, ao contexto pré-eleitoral no Brasil, onde o governo busca evitar desgastes internos e externos, mas também no trabalho inteligente da diplomacia brasileira, que vê a oportunidade do país se posicionar de forma mais estratégica diante dos novos arranjos na geopolítica global.
Após a deportação de 88 brasileiros no último sábado, 25 de janeiro, o governo ofereceu assistência imediata, transportando-os de Manaus para Belo Horizonte. No entanto, evitou comentários oficiais sobre a política migratória de Trump. Em vez disso, optou por ações diplomáticas discretas, como a convocação de diplomatas americanos no Brasil para prestar esclarecimentos e a realização de reuniões estratégicas com ministros para discutir o assunto.
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que também tratou do assunto com o presidente Lula, reforçou que o Brasil não pretende provocar os EUA, mas exigirá que os brasileiros sejam tratados com dignidade. Essa abordagem reflete o delicado equilíbrio que o governo brasileiro busca manter: defender os direitos de seus cidadãos sem escalar tensões com uma das maiores potências mundiais.
A política de deportações em massa de Trump não afeta apenas o Brasil. Ela tem o potencial de reconfigurar alianças e criar tensões em várias regiões do mundo. Esse, aliás, este é um grande problema do mundo contemporâneo, cuja percepção e reação diferem muito nos países centrais para os países periféricos do capitalismo global.
O posicionamento firme e duro do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, deve ser aplaudido, mesmo ele tendo que recuar para não sofrer sanções econômicas. Já o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, se tornou um aliado estratégico de Trump na América Latina, concordando em receber imigrantes deportados de outras nacionalidades que tentam viver nos EUA. O governo brasileiro não quer nenhum desses caminhos e, por isso, trato o assunto com extremo cuidado.
Além disso, a postura agressiva de Trump em relação à imigração e suas ameaças de sanções econômicas têm preocupado setores produtivos em vários países, incluindo o Brasil. O agronegócio e a indústria brasileira, que têm os EUA como um dos principais destinos de exportação, temem retaliações econômicas e a imposição de tarifas sobre seus produtos. Essas medidas poderiam impactar negativamente na economia brasileira.
A política de deportações em massa também levanta questões importantes sobre direitos humanos e dignidade. O tratamento desumano de deportados, como o uso de algemas e correntes, tem sido amplamente criticado por organizações de direitos humanos e governos ao redor do mundo. O Brasil, ao defender os direitos de seus cidadãos, precisa equilibrar essa defesa com uma estratégia diplomática inteligente, evitando conflitos diretos com os EUA, mas também não se omitindo diante de violações.
Nesse novo cenário geopolítico, em que os EUA parecem fechar suas fronteiras e adotar políticas mais protecionistas, o Brasil tem a oportunidade de se posicionar como um defensor dos direitos humanos, da cooperação internacional, do pluralismo e de novos arranjos econômicos, como tem feito nos Brics. A prudência do governo brasileiro é um bom sinal, mas é igualmente importante que o país desenvolva uma estratégia clara e firme para lidar com os desafios impostos por essa nova realidade global.
No final do dia, 28, o governo publicou um vídeo com foco recepção digna e respeitosa aos brasileiros repatriados. Parece que, dessa vez, o governo está acertando a mão, na estratégia e na comunicação. Vamos acompanhar.
Guarim Liberato, jornalista - Diário da Amazônia/Portal SGC