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"Chorei por ter conseguido ficar viva." É assim que a jovem Jéssica Avelino, de 26 anos, se lembra do momento em que acordou na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital, no final de 2023. Descobriu, ali, que estava sem os movimentos das pernas. Mas para ela, recém-tornada mãe, acordar era o que bastava.
Jéssica ficou paraplégica em decorrência de uma infecção causada por um furúnculo maltratado, que apareceu em novembro de 2023. Desde então, ela tem publicado vídeos nas redes sociais sobre como tem se adaptado à realidade da cadeira de rodas. Em seus conteúdos, costuma se destacar a gratidão que Jéssica transparece sentir, apesar do ocorrido.
Ao site, Jéssica explica que o filho Pietro, que tinha 1 ano e 11 meses quando tudo aconteceu, foi o que fez com que ela adotasse essa postura. No meio do turbilhão de emoções que passou enquanto estava internada, sem saber ao certo seu diagnóstico, a jovem só pensava em ver o pequeno crescer.
De um furúnculo à paraplegia
Tudo começou no dia 11 de novembro de 2023. Jéssica notou uma ferida no braço. "Eu nunca tinha tido furúnculo, então eu fiquei na dúvida do que era", conta. Com o passar do tempo, a ferida foi crescendo e o local ficando inchado.
Em 15 de novembro, já sabendo que era um furúnculo, Jéssica decidiu espremer o ferimento. "Falam que quando tira o carnegão para de doer, né?", diz.
Depois, a jovem começou a sentir dores na lombar, que relacionou à rotina ativa, cuidando do filho pequeno e trabalhando como operadora de caixa.
Nove dias depois de espremer o furúnculo, Jéssica foi ao hospital, com muita dor nas costas. "Eu não conseguia levantar totalmente, assim, para andar", relembra. Mas os exames que fez na emergência não detectaram nada.
No dia seguinte, em 25 de novembro, a jovem retornou ao Hospital Roberto Silvares, em São Mateus (ES), com dores ainda mais intensas, acompanhadas de febre e rigidez no corpo. "Eu não conseguia abaixar o queixo até o meu peito", conta.
Naquele momento, ela foi internada com suspeita de meningite. A jovem relata que só veio mencionar o furúnculo aos médicos no dia seguinte, após eles perguntarem se ela teria tido algum ferimento que pudesse ter ocasionado uma infecção bacteriana.
Ainda assim, o diagnóstico correto de por qual bactéria Jéssica teria sido infectada só veio depois de ser transferida para o Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam), em Vitória.
Antes disso, veio o susto e o medo de estar entre a vida e a morte. A perda dos movimentos começou em 29 de novembro, quando a dor irradiou pelas pernas e Jéssica não conseguia mais fazer xixi por conta própria, precisando de uma sonda.
"Quando foi na madrugada do dia 30, minhas pernas começaram a formigar. Elas formigavam bastante. E aí, eu continuava com a suspeita de meningite. E eu estava deitada no quarto do hospital e na minha cabeça eu falei assim, 'eu vou levantar, vou andar um pouco pelo quarto, porque pode ser que eu estou muito deitada em uma posição'. Quando eu andei pelo quarto, que eu sentei, eu não consegui mais levantar", conta.
Depois, Jéssica confessa que não se lembra exatamente o que aconteceu. Ela ficou apavorada e só acordou na UTI, com a informação de que seu corpo estava paralisando.
"A paralisia parou no meu peito. Então, ela veio subindo, eu fui para a UTI com risco de paralisia cerebral ou vir a óbito, porque estava paralisando, assim, totalmente o meu corpo", relembra.
Diagnóstico e esperança
Jéssica conta que demorou cerca de um mês para que os médicos descobrissem qual era o antibiótico certo para usar em seu tratamento. A bactéria, contraída através do ferimento do furúnculo, se alojou na sua medula, causando uma inflamação medular.
"Com o antibiótico que eles deram, se eu não combatesse a bactéria, ia ser preciso fazer uma cirurgia. Só que a cirurgia era mais arriscada, por ser na região da medula. Então, graças a Deus, o antibiótico combateu a bactéria. E agora, hoje em dia, não tem mais a bactéria. Só ficou a inflamação medular, que com o tempo vai desinflamando e pode ir voltando o movimento", conta a jovem.
Jéssica continua com o tratamento de fisioterapia e procura manter a esperança, apesar de não ouvir nem "sim" ou "não" dos médicos sobre a possibilidade de voltar a andar.
"Eles [os médicos] falam que pode ter a possibilidade de voltar a andar porque foi uma inflamação na medula. Não chegou a romper a medula. Então, só com o tempo que a medula, por ela mesma, vai desinflamando e meus sinais podem voltar. Eu posso ficar com sequelas, como posso não ficar com sequelas", diz.
Hoje, ela já recuperou a sensibilidade nas pernas. "A minha perna esquerda dá resposta. Eu consigo mexer um pouco as pernas. Em pé, eu ainda não consigo ficar", conta.
A jovem, que já trabalhou como dançarina em uma banda antes de engravidar, tem conseguido se manter ativa mesmo com as limitações. Agora, ela arremessa a bola para o filho no jogo de futebol dos dois e sonha com o dia em que poderá andar de bicicleta de novo com ele.
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