Reginaldo Pimenta
Especialistas e representantes do setor privado se reuniram neste domingo (25), no centro do Rio de Janeiro (RJ), para o primeiro dia do seminário "Socioeconomia do Clima", promovido pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) com jornalistas de diferentes estados do país, organizado com apoio do e-mundi (Encontro Mundial de Jornalistas). Os palestrantes destacaram temas importantes que serão debatidos na COP30 de Belém, em novembro deste ano, além dos desafios do Brasil para atrair investimentos verdes e estruturar um modelo de desenvolvimento socioeconômico mais sustentável e justo, diante das mudanças climáticas.
Com uma programação focada em finanças climáticas, no papel das instituições internacionais e na mobilização de governos subnacionais brasileiros, o seminário destacou o Brasil como peça-chave na agenda global do clima.
Maria Netto, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS), abriu o encontro e ressaltou que o cenário internacional tem passado por uma reorganização. Embora os Estados Unidos continuem influentes em instituições como o FMI e o Banco Mundial, outros países e blocos vêm ganhando protagonismo no financiamento climático.
"Existe uma nova geografia no financiamento climático. Instituições como o Banco Asiático de Infraestrutura ou o New Development Bank já operam fora da influência direta dos Estados Unidos", afirmou.
Para a diretora do iCS, a rigidez nos mecanismos tradicionais pode limitar a expansão de recursos para o clima.
"Não dá mais para olhar apenas o financiamento público. Precisamos considerar todas as fontes de recursos para lidar com os desafios climáticos."
Sócia da Fama Re.Capital e co-fundadora da LACLIMA, Caroline Prolo destacou o potencial brasileiro para se tornar referência global em cadeias de valor sustentáveis, especialmente por meio da energia renovável no Nordeste.
"Além da abundância de energia limpa, temos minerais críticos que poderiam gerar oportunidades reais de novos negócios para a população local", disse.
Caroline lembrou que novas fontes de financiamento verdes vêm surgindo em países como Emirados Árabes e Noruega, o que amplia o leque de possibilidades para projetos ambientais no Brasil.
"Precisamos pensar além da convenção climática tradicional e avançar na promoção de investimentos em soluções baseadas na natureza e tecnologias verdes."
Estados e municípios
O gerente de Política Climática e Arcabouço Climático, Walter De Simoni, destacou a necessidade cada vez maior de participação de governadores e prefeitos na agenda ambiental. Embora não tenham assento nas mesas de negociação da ONU, esses atores podem influenciar decisões importantes. São eles que irão adaptar e implementar em cada localidade políticas públicas e projetos que tornarão a agenda climática uma realidade.
"Falar de clima é falar de um novo modelo de desenvolvimento, inclusive regional. Os estados e municípios têm papel fundamental. Por isso, é tão importante se falar em federalismo climático e no papel dos governos federal e subnacionais, e suas relações, na mitigação e adaptação dos territórios".
O federalismo brasileiro aplicado à questão climática requer um debate sobre as responsabilidade e relações de cada nível - federal, estadual e municipal - na elaboração e implementação de políticas.
De Simoni citou o Anuário Estadual de Mudanças Climáticas, organizado pelo iCS em parceria com o Centro Brasil no Clima, que fez um raio x de onde cada estado está em seus avanços e desafios na pauta climática.
"É possível identificar em diferentes unidades da federação políticas que funcionaram e colocaram esse estado em destaque. O sucesso da energia solar em Minas Gerais é um exemplo disso, resultado de políticas estaduais e de um alinhamento entre setores público e privado. O anuário mostra que temos bons exemplos, mas que ainda precisamos vencer uma forte assimetria entre os estados para a implementação de soluções climáticas na velocidade que precisamos."
Presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) e ex-ministro do Planejamento Dyogo Oliveira alertou para os impactos crescentes da crise climática sobre o setor. Ele citou como exemplo o caso de Porto Alegre.
"O Brasil era historicamente considerado um país não catastrófico (por não estar na rota de terremos e tornados). Mas hoje já somos vistos como um país catastrófico pela indústria global de seguros", disse.
Dyogo apresentou iniciativas da CNSeg que visam preparar o setor para esses novos riscos
"Hoje, o Brasil ainda não tem isso estruturado."
O seminário "A Socioeconomia do Clima" continua nesta segunda-feira (26), reunindo autoridades e especialistas para debater bioeconomia, regulação ambiental e estratégias de financiamento para uma transição justa e sustentável.
Assessoria