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STF interroga Mauro Cid, delator da trama golpista

Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid é o primeiro a ser interrogado. Moraes e ministros da Primeira Turma fazem perguntas


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STF interroga Mauro Cid, delator da trama golpista

Fellipe Sampaio/STF

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A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) começou a interrogar, na tarde desta segunda-feira (9/6), os réus do núcleo 1 por participação na suposta trama golpista para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder após as eleições de 2022. O ex-presidente chegou à sessão no início da tarde e se disse "tranquilo".

O primeiro a ser ouvido pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, é o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, delator da suposta trama golpista.

O militar confirmou a Moraes que Bolsonaro leu a minuta do golpe e a enxugou, mantendo apenas Moraes como preso. "Ele enxugou o documento, retirando as prisões. Somente o senhor [Moraes] ficaria preso", disse.

Mauro Cid também esclareceu, em determinado momento, que a grande expectativa de Jair Bolsonaro era encontrar fraudes nas urnas eletrônicas.

Em determinado momento do interrogatório, o ex-ajudante de ordens disse a Moraes que, em uma reunião informal com outros militares, definida por ele como "conversa de bar", o grupo direcionou xingamentos a Moraes: "Cara desgraçado". A declaração arrancou risos da audiência durante a sessão desta segunda.

Interrogatório

Por volta das 14h20, Moraes chamou para falar o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid. Ele se sentou no banco dos réus e começou a responder ao interrogatório.

Antes disso, Cid se encontrou frente a frente com Jair Bolsonaro, de quem foi figura muito próxima durante boa parte do governo. O ex-presidente chegou a sorrir, protocolarmente, mas Cid ficou aparentemente constrangido.

O ex-ajudante de ordens Cid, visivelmente nervoso e gaguejando, confirmou a Moraes termos de delação e negou coação em depoimentos. Ao se referir a uma entrevista, ele disse que estava em crise psicológica e que "saiu atirando para tudo quanto é lado".

Explicando, a Moraes, o funcionamento do esquema, Cid ressaltou que não havia uma organização centralizada.

"Os grupos não eram organizados. Era cada um com sua ideia. Não existia uma organização e nem reuniões. Não eram grupos organizados que iam junto ao presidente. Era pessoas que levavam ideias. Tinham dos mais conservadores aos mais radicais", disse.

Mauro Cid seguiu dando detalhes a respeito dos fatos. Ele respondeu primeiro a questionamentos de Moraes. Posteriormente, passou a ser ouvido pelo ministro Luiz Fux. Depois, foi a vez do Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, fazer os questionamentos.

Nas respostas, o ex-ajudante de ordens ressaltou que a minuta do golpe era um documento "muito mal escrito". Ele também ressaltou que o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, "era um dos mais radicais".

Um pouco antes das 17h o ministro Alexandre de Moraes suspendeu a sessão para intervalo. O interrogatório foi retomado por volta das 17h10.

Cid passa a ser questionado por advogados das outras partes no processo.

Sequência

O núcleo tem, além do ex-presidente, mais sete integrantes. A divisão por núcleos seguiu o critério de tipo de participação de cada grupo de réus. A sessão começou com a fala do ministro Alexandre de Moraes.

A partir do depoimento de Mauro Cid, os outros sete serão realizados por ordem alfabética até a sexta-feira (13/6), prazo marcado para o fim do procedimento.

Os réus poderão optar por ficar em silêncio ou responder às perguntas.

Réus, por ordem de depoimento:

Mauro Cid, delator do esquema e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro

Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin)

Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha

Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal

General Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional

Jair Bolsonaro, ex-presidente da República

Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa

Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil (o general será o único a ser inquirido por videoconferência, pois está preso no Rio de Janeiro)

Os oito réus são julgados pelos crimes de: organização criminosa armada; tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, com considerável prejuízo para a vítima; e deterioração de patrimônio tombado.

Como funciona

Pela dinâmica definida, na hora de depor, o réu se levanta, senta no banco central, à frente dos ministros da Primeira Turma e com o advogado ao lado, e, quando terminar de falar, volta para o assento original. A Primeira Turma é formada pelos ministros Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.

Arte/Metrópoles

Os advogados do ex-presidente Jair Bolsonaro tentaram suspender a audiência desta segunda, mas o pedido foi negado pelo ministro Alexandre de Moraes.

Os defensores do ex-presidente argumentaram que teria havido falta de acesso integral às provas e a necessidade de que Bolsonaro só seja interrogado após o depoimento das testemunhas.

Calendário dos próximos interrogatórios:

10/6 - das 9h às 20h;

11/6 - das 8h às 10h;

12/6 - das 9h às 13h; e

13/6 - das 9h às 20h.

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