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Aos 20 anos, Julia Micaelly Ribeiro Carvalho pode dizer que já viveu as fases mais desafiadoras do organismo feminino. A jovem do Maranhão entrou na puberdade ainda aos 4 anos e chegou a menopausa aos 16, condições extremamente raras para pessoas com a sua idade.
O primeiro sinal de que algo estava errado foi um forte suor debaixo do braço. Depois, começaram a surgir pelos nas axilas e na região íntima, além do desenvolvimento dos seios. As mudanças deixaram Julia desconfortável e angustiada, principalmente quando notava que as colegas da mesma faixa etária não acompanhavam esse desenvolvimento.
Como seus pais tinham poucas informações, a estudante começou o tratamento apenas aos 7 anos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A medicação era feita por injeção, e era o próprio pai, enfermeiro, quem aplicava. O que não fazia grande diferença: as agulhadas aplicadas três vezes ao mês eram dolorosas e deixavam o local da aplicação dolorido por dias.
De acordo com um documento de 2022 do Ministério da Saúde, a puberdade precoce é o aparecimento de caracteres sexuais secundários antes dos 8 anos em meninas e 9 anos em meninos. A condição, considerada rara, é de 10 a 23 vezes mais frequente em meninas.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) explica que a puberdade precoce ocorre porque a criança foi exposta a algum hormônio ou porque suas glândulas passaram a produzir, por algum motivo, esses hormônios sexuais precocemente.
O tratamento seguiu até os 11 anos, idade em que já poderia menstruar. A normalidade, porém, duraria apenas por mais ou menos cinco anos, quando enfrentaria dessa vez uma menopausa precoce.
‘Só azar’
Em uma madrugada, a jovem acordou sentindo dores abdominais. Por estar no fim do mês, próximo à data da sua menstruação, ela acreditou que pudessem ser cólicas. "Quando fui levantar, senti [algo] rompeu. Automaticamente, senti o sangue subindo dentro de mim", descreveu em um vídeo no TikTok, onde tem 41 mil seguidores. "Não conseguia me mexer de dor, não conseguia ficar reta".
No hospital com a família, ela imaginava que o caso fosse simples e seria resolvido rapidamente, com alta ainda no mesmo dia. Não foi o que aconteceu: um cisto hemorrágico tinha rompido e acabou rompendo também o ovário esquerdo. "O médico disse que se deixasse o ovário direito, eu poderia morrer, porque ele [também] iria estourar. [Acabou que] o ovário [direito] estourou na mão dele", relatou.
Julia contou que fez acompanhamento com ultrassom até os 13 anos e que nunca foram encontradas nenhuma anomalia. Os ovários foram encaminhados para biópsia, mas os resultados estavam normais. Nas redes, Julia também descartou qualquer ligação com a puberdade precoce, chegando a falar em "só uma coincidência do destino, só azar".
A remoção induziu à menopausa precoce, quando a menopausa, que geralmente se manifesta entre 45 anos e 50 anos, ocorre antes dos 40. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1 em cada 100 mulheres sofre da condição --antes dos 30, a incidência é de 1 em 1.000.
Os sintomas não deram trégua: Julia foi acometida pelas ondas de calor, além do desequilíbrio emocional. Ela começou o tratamento com um anticoncepcional específico para a condição, mas levou dois anos até se ajustar ao remédio. Também acabou desenvolvendo um tumor benigno na hipófise, uma glândula localizada no cérebro. Chamado de prolactinoma, o tumor estimula a produção de leite.
Além dos sintomas incômodos, a perda dos ovários também deixou a estudante temerosa quanto à possibilidade de não conseguir ser mãe, seu grande sonho. "Isso era um tabu para mim. Chorava muito, mas hoje em dia estou muito mais tranquila", contou.
Julia, que casou recentemente, pretende fazer uma fertilização in vitro (FIV): "Eles pegam o óvulo, o material genético do meu marido, vão juntar e, essa junção, vão colocar no meu útero para eu gestar", explicou. A doadora foi a própria mãe, que congelou seus óvulos para poder doá-los à filha futuramente. "Vou ser mãe de todo o jeito", disse, sorrindo.
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