Bolsonaro e Moraes apostam no acirramento da crise com Trump
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Qual será o tamanho da pancada que Donald Trump infligirá ao Brasil por causa da decretação da prisão domiciliar de Jair Bolsonaro por Alexandre de Moraes?
Poucas horas depois da divulgação da notícia, o Departamento de Estado americano publicou a seguinte declaração nas redes sociais:
"O ministro Alexandre de Moraes, já sancionado pelos Estados Unidos por violações de direitos humanos, continua usando as instituições brasileiras para silenciar a oposição e ameaçar a democracia. Impor ainda mais restrições à capacidade de Jair Bolsonaro de se defender publicamente não é um serviço público. Deixem Bolsonaro falar!
Os Estados Unidos condenam a ordem de Moraes que impôs prisão domiciliar a Bolsonaro e responsabilizarão todos aqueles que colaborarem ou facilitarem condutas sancionadas."
Pelo último parágrafo, infere-se que a ameaça é, especificamente, aos outros integrantes do STF, em especial da Primeira Turma, e ao PGR, Paulo Gonet, personagens diretamente envolvidos nos processos contra Jair Bolsonaro.
Eles poderão ser considerados violadores de direitos humanos e se tornar colegas de Alexandre de Moraes na Lei Magnitsky.
Problema dos togados, o nosso é outro: e se Donald Trump retaliar o Brasil com um aumento nas tarifas de importação de produtos do país? E se ele cancelar as isenções obtidas por empresários nacionais?
No mesmo dia em que Alexandre de Moraes resolveu prender Jair Bolsonaro, porque o ex-presidente exerceu o seu direito à liberdade de expressão, o que lhe foi proibido pelo ministro defensor da democracia eternamente ameaçada, os Estados Unidos anunciaram que a Índia pagaria tarifa suplementar por comprar petróleo da Rússia, sancionada pelo Ocidente por ter invadido a Ucrânia.
O fato de o Brasil importar diesel russo, que já significava um risco, soma-se agora à prisão de Jair Bolsonaro para criar o cenário para Donald Trump elevar a punição tarifária ao país.
O momento parecia propício para separar, em alguma medida, o aspecto político do comercial nas negociações do governo brasileiro com o governo americano em torno das tarifas, mas tanto Jair Bolsonaro quanto Alexandre de Moraes colocaram mais pedras do caminho.
É de se perguntar se a família Bolsonaro não provocou o ministro. O ex-presidente já estava praticamente aprisionado em sua casa pelas medidas cautelares que lhe foram impostas, e a decretação da prisão domiciliar só reforça o seu papel de mártir. Ainda que não tenha havido provocação, é muito conveniente para impedir que o litígio com o governo americano seja expurgado, em alguma medida, da questão política.
Há de se perguntar também se Alexandre de Moraes não teve cálculo político quando ordenou a prisão, para além de ser movido pelos motivos judiciais ditados pela sua personalidade incontrastável.
Explico. Ao recusar-se a apelar à Justiça americana para tentar anular a sua inclusão na Lei Magnitsky, o ministro deixou evidente a sua vontade de manter a desavença com Donald Trump integralmente no campo da política — e a de que o governo Lula tome as suas dores também no campo diplomático.
Não interessa a Alexandre de Moraes que um entendimento qualquer do Brasil com os Estados Unidos no terreno comercial relegue ao segundo plano a sua inclusão entre os sancionados pela Lei Magnitsky. Também não interessa a outros ministros do STF que estão na mira de Washington. Daí a ênfase na "defesa da soberania nacional" contra a "intervenção estrangeira no Poder Judiciário brasileiro".
Temos, assim, Jair Bolsonaro e Alexandre de Moraes apostando no acirramento da crise com Donald Trump. Sempre em defesa da democracia brasileira, claro.
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