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Planeta atinge 1º ponto crítico climático catastrófico e irreversível

Relatório produzido por 160 cientistas revelou que impactos ainda maiores estão se aproximando


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Planeta atinge 1º ponto crítico climático catastrófico e irreversível

Sirachai Arunrugstichai

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O planeta está enfrentando uma "nova realidade" ao atingir o primeiro de uma série de pontos críticos climáticos catastróficos e potencialmente irreversíveis: a morte generalizada dos recifes de corais, segundo um relatório histórico produzido por 160 cientistas de todo o mundo.

À medida que os seres humanos queimam combustíveis fósseis e elevam as temperaturas globais, o planeta já sofre com ondas de calor, inundações, secas e incêndios florestais cada vez mais intensos.

Mas impactos ainda maiores estão se aproximando. As mudanças climáticas podem estar levando sistemas cruciais da Terra — da Floresta Amazônica às calotas polares — a um ponto de desequilíbrio tão extremo que eles podem entrar em colapso, provocando efeitos devastadores em escala planetária.

"Estamos nos aproximando rapidamente de múltiplos pontos de inflexão no sistema terrestre que podem transformar o nosso mundo, com consequências devastadoras para as pessoas e para a natureza", disse Tim Lenton, professor do Global Systems Institute da Universidade de Exeter e um dos autores do relatório publicado no último domingo (12).

Segundo o estudo, os corais de águas quentes são os primeiros a ultrapassar esse limite. Desde 2023, os recifes do mundo vêm enfrentando o pior evento de branqueamento em massa já registrado, à medida que os oceanos atingem temperaturas recordes — mais de 80% deles foram afetados.

O que antes era um espetáculo subaquático de cores e vida está sendo substituído por uma paisagem esbranquiçada, dominada por algas.

"Já levamos os recifes de coral além do que eles conseguem suportar", afirmou Mike Barrett, conselheiro científico-chefe do World Wildlife Fund (WWF) do Reino Unido e coautor do relatório. A menos que o aquecimento global seja revertido, "extensos recifes, como os conhecemos, desaparecerão", escreveram os autores.

Os impactos serão profundos e amplos: os recifes de coral são habitats essenciais para inúmeras espécies marinhas, fundamentais para a segurança alimentar, movimentam trilhões de dólares na economia global e protegem as áreas costeiras contra tempestades.

O relatório alerta que, se as temperaturas continuarem subindo, o planeta se aproximará de vários outros pontos críticos, já que é praticamente certo que ultrapassará a meta global de limitar o aquecimento a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.

Um dos cenários mais alarmantes é o possível colapso da Circulação Meridional de Revolvimento do Atlântico (AMOC) — uma rede crucial de correntes oceânicas. Isso teria consequências globais catastróficas: resfriaria severamente partes do planeta, aqueceria outras, desorganizaria as monções e elevaria o nível do mar.

"Há agora o risco de que esse colapso ocorra ainda durante a vida das pessoas que estão nascendo e vivendo hoje", afirmou Barrett.

O mundo não está preparado para os impactos de ultrapassar esses pontos de inflexão, disse Manjana Milkoreit, pesquisadora do Departamento de Sociologia e Geografia Humana da Universidade de Oslo e também autora do relatório.

As políticas e acordos internacionais atuais "foram projetados para lidar com mudanças graduais, não com transformações abruptas, irreversíveis e interconectadas", disse ela. A forma como os governos responderem agora "pode moldar o sistema terrestre por um tempo muito longo", acrescentou.

O relatório pede ações urgentes, incluindo a redução rápida das emissões de gases de efeito estufa e o aumento das iniciativas de remoção de carbono da atmosfera.

Segundo Lenton, o mundo inevitavelmente ultrapassará os 1,5°C, mas o essencial será minimizar o aquecimento adicional e reduzir as temperaturas o mais rapidamente possível.

Apesar das conclusões alarmantes, o relatório também destacou sinais positivos, como a "aceleração radical" da adoção de energia solar, veículos elétricos, baterias e bombas de calor. Tecnologias poluentes, uma vez substituídas, dificilmente voltarão, já que as opções limpas se tornaram mais baratas e eficientes.

O relatório foi divulgado um mês antes da COP30, conferência climática anual da ONU, que será realizada no Brasil. Esta edição é especialmente importante, pois os países devem apresentar suas novas metas de redução de emissões para a próxima década.

"Essa situação sombria precisa servir como um alerta: se não agirmos de forma decisiva agora, também perderemos a Floresta Amazônica, as calotas polares e correntes oceânicas vitais", alertou Barrett. "Nesse cenário, estaríamos diante de um resultado verdadeiramente catastrófico para toda a humanidade."

cnn

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