Rafa Pereira/COP30
O terceiro dia da Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP30), nesta quarta-feira (12), ganhou o reforço de agentes da Força Nacional e Polícia Federal. A medida veio após a invasão de manifestantes na noite de terça-feira (11), quando grupos de movimentos sociais ultrapassaram a segurança da Zona Azul — área restrita a autoridades, imprensa e profissionais credenciados. A confusão durou cerca de duas horas até ser controlada.
A chegada ao evento nesta quarta-feira (12), no entanto, estava marcada pela mudança: havia uma presença massiva de seguranças, placas de "VIP" foram acrescentadas na entrada do credenciamento e as portas quebradas durante os protestos já haviam sido substituídas.
Ao Terra, a ministra Margareth Menezes comentou como o assunto repercurtiu nos bastidores do governo. "Foi um fato isolado. Aqui dentro da COP os povos originários, com suas experiências, são importantes. E dentro do Ministério da Cultura estamos reconhecendo também os povos originários como portadores de possibilidades da relação do povo com a natureza", disse a ministra, sem querer adentrar muito no assunto.
A Zona Azul é restrita a credenciados, e a Zona Verde é aberta ao público em geral. Para chegar ao local, é preciso caminhar cerca de 10 minutos por ruas que estão fechadas e monitoradas pela polícia desde a Cúpula dos Líderes.
Dentro, o dia seguiu movimentado, sem grandes reforços na segurança interna e sem ocorrências. Um pequeno grupo de manifestantes levou uma ação à conferência contra o uso de combustíveis fósseis, mas foi "contido" com uma barreira de segurança, para que não fosse criado um tumulto.
Por volta das 14h, um grupo de indígenas chegou à entrada principal da Zona Verde, mas foi impedido de entrar por guardas que alegaram cumprir um "protocolo de segurança". "Fomos convidados para participar de um painel e falar sobre o nosso território. Nós precisamos participar, mas fomos barrados. A gente não está bagunçando nem fazendo manifestação, estamos aqui para participar do evento", contou Ediene Kirixi, do povo Munduruku, em entrevista ao Terra.
Vale lembrar que protestos são comuns em todos os dias da COP, mas não com a intensidade vista na noite de terça-feira.
A Zona Verde também teve um alto fluxo de participantes, que relatam esperas de mais de uma hora. Para enfrentar o sol forte de Belém, muitos trouxeram sombrinhas e leques. Para amenizar a longa espera, a organização da COP distribuiu água gelada em lata.
Presença de ministros
Além de Margareth Menezes, os ministros Camilo Santana, Marina Silva e Simone Tebet também cumpriram agenda na Conferência das Partes nesta quarta-feira. Em conversa com jornalistas, Camilo Santana garantiu que os estudantes do Pará não serão prejudicados com o adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em Belém devido ao evento.
Já Marina Silva participou da inauguração do Pavilhão do Balanço Ético Global (BEG) na Zona Azul, ao lado de André Corrêa do Lago, presidente da COP30, enquanto Simone Tebet destacou um lançamento de um programa que visa financiar US$ 1 bilhão para infraestrutura verde nas cidades amazônicas.
Alta procura por 'PS da COP30'
Os ambulatórios disponíveis na conferência já registraram mais de mil atendimentos durante os três primeiros dias do evento. Apenas 1% dos casos necessitou de internação. Os principais sintomas relatados por pessoas que precisaram de ajuda médica são mal-estar por calor (náuseas, diarreia e tontura) e intoxicação alimentar.
Nesta quarta-feira (12), em um dos postos de atendimento, a reportagem ouviu relatos de pessoas que se sentiam mal há dias. Durante a permanência do Terra no local, as queixas mais comuns incluíram dor de cabeça, febre, náuseas, diarreia, tontura, alergia alimentar e até crise de choro.
Os Postos de Atendimento Médico (PAMs) estão instalados nas áreas Blue Zone, acessível apenas para credenciados, e Green Zone, aberta para o público em geral. Os PAMs funcionam como pontos de triagem e de primeiros cuidados e estão disponíveis em um plantão de 12 horas. Há uma equipe volante do Sistema Único de Saúde (SUS) realizando atendimentos básicos entre os participantes do evento, como curativos em dedos dos pés machucados, por exemplo.
Uma jornalista italiana, que precisou de ajuda logo na sua chegada à Conferência, contou que está há quatro dias se sentindo mal. Desde que chegou a Belém, ela disse que tem tomado todos os cuidados necessários, mas que acredita ter sido vítima de uma intoxicação alimentar.
Reino Unido recebe prêmio de 'Fóssil do Dia'
Uma premiação sibólica realizada por organizações da sociedade civil durante a COP30 concedeu o "prêmio" de "Fóssil do Dia" ao Reino Unido nesta quarta-feira, 12. O motivo? De acordo com a Climate Action Network, o país bloqueou o avanço das discussões sobre o Programa de Trabalho de Transição Justa.
A proposta recebeu o apoio de diversos países, mas foi refutada pelo Reino Unido, que se recusou a criar um mecanismo global de transição justa para apoiar economias em desenvolvimento em meio às mudanças climáticas. O Reino Unido defendeu que as estruturas providas pela ONU já são o suficiente.
O "Fóssil do Dia" é uma "honraria" simbólica e irônica concedida uma vez por dia durante as conferências climáticas da ONU. O nome associado negativamente ao "prêmio" faz alusão aos combustíveis fósseis, principal fonte de emissão de gás carbônico e uma das pautas mais importantes desta Conferência das Partes na Amazônia.
Segundo a Climate Action Network, o prêmio é concedido ao país que teve a pior atuação durante um determinado dia da conferência em relação às decisões que envolvem a proteção do meio ambiente e o combate às mudanças climáticas.
Terra