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Temos a prova viva, e com mandato, de que o voto meramente ideológico não compensa

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É hora de os rondonienes refletirem profundamente sobre o que significa, de fato, "representar" no Congresso Nacional — e por que muitos, que depositaram esperança no deputado federal Coronel Chrisóstomo (PL-RO), hoje sentem o rosto arder de constrangimento diante de suas recentes atitudes e gafes. A eleição dele foi, para muitos, a aposta em alguém que clamava por valores como moralidade, combate à corrupção e defesa da família. Mas o que se vê agora no plenário e nas comissões é algo muito diferente da dignidade que se imaginava.

Um dos episódios mais simbólicos desse desencontro ocorreu há pouco na CPMI do INSS. Durante uma sessão séria, destinada a apurar irregularidades em benefícios previdenciários, Chrisóstomo interrompeu os trabalhos para puxar um coro de "Parabéns pra você" para um senador de outro estado, o Magno Malta (PL-ES), por ocasião de seu aniversário (ele foi repreendido pelo presidente da comissão). O gesto viralizou e foi recebido por risadas, comentários de incredulidade e críticas nas redes sociais, transformando-se em símbolo do ridículo que se sobrepõe à responsabilidade institucional.

Mas o constrangimento não para aí. Em outra sessão da mesma CPMI, Chrisóstomo solicitou autorização para tocar uma música — uma canção de autoelogio, criada por uma fã ou apoiador — em sua homenagem. Com voz embargada, ele afirmou que a letra não era apenas um tributo pessoal, mas uma "homenagem à CPMI e ao trabalho de todos aqui". É um momento surreal: num colegiado chamado para fiscalizar desvios, ele ocupa a tribuna para celebrar a si mesmo — descolando-se do objeto da investigação, quebrando o decoro e gerando, nos corredores, olhares de espanto e risadas.

Esses episódios já bastariam para alimentar debate sobre decoro, mas há sinais mais graves que remetem a uma representação irresponsável. O TCU, a pedido do Ministério Público, abriu investigação para apurar denúncias de nepotismo no gabinete de Chrisóstomo. De acordo com as apurações, mais de R$ 2 milhões teriam sido pagos a familiares — incluindo sua companheira, cunhada e concunhados. Se confirmado que não houve prestação de serviços compatível, o caso pode configurar desvio grave, enriquecimento ilícito e dano ao erário.

Além disso, um episódio recente mostra que Chrisóstomo parece não ter noção do risco institucional que algumas de suas falas carregam. Ele foi denunciado ao MPF por declarações consideradas golpistas — exaltando a ditadura de 1964 e convocando as Forças Armadas "estejam ao lado do povo brasileiro". Esse tipo de retórica não condiz com a liturgia mínima do cargo de deputado federal — ainda mais vindo de alguém que se apresentava como guardião da moral e da ordem.

Não é exagero afirmar que o nome Coronel Chrisóstomo virou motivo de chacota nos corredores do Congresso. Enquanto deveria usar seu mandato para apresentar projetos sérios, propor reformas, dialogar com colegas para defender os interesses de Rondônia, ele dedica parte de seu capital político para celebrações pessoais. É uma inversão da ordem: o representante vira estrela de show, e a pauta pública perde protagonismo.

O que esse caso revela é a urgência de adotarmos critérios mais exigentes na escolha de quem irá nos representar. Votar por "onda política" — alinhamento ideológico apenas — não basta quando o poder se mostra tão sedento por holofotes pessoais. Precisamos de líderes com compreensão institucional, com senso de responsabilidade, com noção clara de que representar Rondônia no Congresso é um mandato para servir, não para se exaltar. Se continuarmos trocando experiência por espetáculo, estaremos anos perdidos — e nossas demandas reais ficarão para trás.

Que este momento de decepção nos sirva de lição. Rondônia merece representação à altura de seus desafios, não artistas de palco nem coronéis do microfone. É tempo de cobrar, de exigir e de redefinir o que significa dignidade no exercício do poder. E tudo começa pela nossa escolha.


Fernando Pereira

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