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Nesta quarta-feira, 20 de novembro, celebramos o Dia Nacional da Consciência Negra, data que transcende a mera formalidade do calendário para nos confrontar com uma reflexão profunda sobre nossa identidade nacional. Em um país onde mais da metade da população se autodeclara negra, é imperativo questionar por que ainda precisamos de um dia específico para discutir questões raciais.
A escolha da data, que homenageia a morte de Zumbi dos Palmares, ocorrida no ano de em 1695, simboliza não apenas a resistência de um povo, mas também a persistente luta por equidade em uma sociedade que ainda carrega as cicatrizes do período escravocrata.
O Brasil, último país das Américas a abolir a escravidão, continua devedor de uma dívida histórica que se manifesta em diversos indicadores sociais. Os números são implacáveis: negros ocupam apenas 29,2% dos cargos gerenciais, recebem salários em média 30% menores que brancos e representam 75% das vítimas de violência policial.
Na educação superior, mesmo com políticas afirmativas, a presença negra ainda está aquém da representatividade populacional. São dados que expõem uma realidade incômoda: o racismo estrutural persiste e se reinventa.
Contudo, o Dia da Consciência Negra não deve ser apenas um momento de lamentação, mas uma oportunidade de celebrar conquistas e fortalecer a luta antirracista. Observamos avanços significativos: a Lei 10.639/03 tornou obrigatório o ensino da história africana nas escolas, cotas raciais têm democratizado o acesso às universidades, e a representatividade negra cresce em diversos setores.
É fundamental entender que combater o racismo não é responsabilidade exclusiva da população negra. A sociedade brasileira precisa abandonar o mito da democracia racial e reconhecer que privilégios existem e precisam ser desconstruídos. Empresas, instituições educacionais e órgãos públicos devem implementar políticas efetivas de inclusão e combate à discriminação.
A consciência negra é um exercício diário de reconhecimento, valorização e ação. Precisamos ir além do discurso e promover mudanças concretas em nossas práticas cotidianas. O Brasil só será verdadeiramente democrático quando a cor da pele não determinar oportunidades de vida.
Esta data nos convida a um compromisso coletivo: transformar a indignação em ação, o reconhecimento em política pública e a consciência em prática antirracista. O futuro de uma nação genuinamente igualitária depende da nossa capacidade de enfrentar o racismo com coragem, determinação e, sobretudo, ações concretas.
Diário da Amazônia