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Um estudo publicado nesta quinta-feira (30), pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelou a presença de ao menos 22 facções criminosas, tanto nacionais quanto estrangeiras, atuando na Amazônia Legal, abrangendo nove estados brasileiros.
O levantamento intitulado "Cartografias da violência na Amazônia" mapeou a presença dessas facções em 178 das 772 cidades da região, e revelou que quase um a cada quatro municípios está sob influência ou disputa entre esses grupos. A disseminação dessas organizações criminosas impacta diretamente nos índices de violência e no tráfico de drogas na Amazônia Legal.
O estudo destaca a presença de facções nacionais, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), juntamente com grupos locais como a Família do Norte (FDN) e estrangeiros, vindos de países como Peru, Venezuela e Colômbia.
Nos últimos anos, houve um expressivo aumento nas apreensões de drogas na região, sinalizando o crescimento do tráfico e a expansão dessas organizações. Capitais como Manaus, Porto Velho, Macapá, Rio Branco e Palmas são os epicentros dos conflitos entre facções.
A taxa de mortes violentas nessa área é alarmante, sendo 45% maior do que a média nacional, coincidindo com o aumento das disputas entre as facções. A dinâmica do crime local começou a mudar principalmente a partir de 2016, quando a organização criminosa Comando Vermelho (CV) fez uma parceria com a facção local Família do Norte para usar a rota de Tabatinga (AM) como principal via de abastecimento de drogas, principalmente cocaína e skank (ou skunk, maconha de efeitos altamente potentes).
A atuação das facções, entretanto, não se resume ao tráfico de drogas. Segundo os pesquisadores, elas passaram a controlar cada vez mais redes criminosas mais amplas, que envolvem desde trabalho análogo à escravidão, exploração sexual e invasão de terras indígenas até crimes ambientais como exploração ilegal de madeira e minérios, tráfico ilegal de animais e pesca predatória.
Nos últimos anos, fatores como a diminuição da fiscalização ambiental na Amazônia e o aumento de presos em prisões superlotadas e precárias (usadas como local de recrutamento) contribuíram para a consolidação das facções na região, aponta o estudo.
FBSP/DIVULGAÇÃO
Facções internacionais
A pesquisa identificou também a atuação de pelo menos 10 organizações criminosas internacionais nas regiões de fronteira, que atuam em conjunto com os grupos brasileiros e em outras vezes disputam rotas e territórios.
Desdobramentos políticos recentes em países vizinhos também contribuíram para ampliar essa atuação. Alguns exemplos são a crise na Venezuela e os acordos de paz entre o governo da Colômbia e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Depois disso, foi registrada nas regiões de fronteiras da Amazônia brasileira a presença de grupos dissidentes das Farc, como a Frente Armando Rios, Frente Carolina Ramirez e Frente Segunda Marquetalia, além de facções peruanas, como Clã-Chuquzita, Comando de Las Fronteiras e Los Quispe-Palamino.
Em Roraima, o grupo venezuelano Trem do Aragua e os brasileiros CV e PCC disputam o controle. Há indícios também de novas facções da Venezuela atuando na capital, Boa Vista.
Apesar da presença dos criminosos estrangeiros no Brasil, a ampliação da atuação dos grupos brasileiros nos outros países da América Latina é bem mais proeminente, explicam os pesquisadores.
Não há, segundo o estudo, um grupo que possa ser considerado hegemônico na região. As disputas de poder, inclusive, levam a conflitos de extrema violência, como o massacre no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) em Manaus, em 2017, que resultou na morte de 54 pessoas, algumas delas decapitadas. Acre, Amazonas, Roraima e Amapá são os Estados onde as disputas têm sido mais intensas nos últimos anos.
No entanto, seria possível perceber que o PCC e o CV são tanto as facções com maior controle no Brasil quanto as que mais atuam nos países vizinhos da região.
O PCC tem atuação na Bolívia, na Guiana, na Guiana Francesa, no Suriname e na Venezuela. Já o CV tem presença registrada no Peru e na Bolívia.
Redação - Diário da Amazônia