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Denúncia: Taxa de R$ 4 mil da Federação de Taekwondo exclui atletas de baixa renda em Rondônia

Prática persiste há mais de 10 anos e impede jovens de competir


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Centenas de praticantes de taekwondo em Rondônia enfrentam barreiras para competir e evoluir no esporte devido a uma cobrança de R$ 4 mil exigida pela Federação de Taekwondo do Estado (FETRON). O valor, chamado de "jóia", é condição obrigatória desde 2012 para que academias se filiem e atletas participem de campeonatos oficiais ou mudem de faixa. A reportagem questionou a FETRON sobre a prática, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.

A taxa tem afastado profissionais e alunos, especialmente os de baixa renda. Sem condições de arcar com o custo, muitos desistem da modalidade ou buscam filiação em estados vizinhos, como o Acre, onde as regras são menos restritivas.

"O taekwondo não pode ser privilégio de poucos. É um direito garantido pela Constituição, e práticas como essa ferem a essência do esporte", afirma o advogado José Ricardo Costa, autor de uma ação popular que tenta derrubar a cobrança.

Reconhecida como entidade de utilidade pública pelo governo estadual e pela Prefeitura de Porto Velho, a FETRON é acusada de operar como uma organização privada, privilegiando apenas academias que podem pagar a taxa. O governo local e a prefeitura alegam que a federação é autônoma, enquanto a Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD) e o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) não se manifestaram sobre o caso.

Especialistas apontam que a prática viola a Lei Geral do Esporte (14.597/2023), que garante gestão democrática e acesso universal.

Justiça arquivou ação

Em janeiro de 2025, a Justiça arquivou uma ação popular movida pelo advogado José Ricardo Costa contra a cobrança, sob o argumento de que o recurso não seria adequado para questionar normas internas de federações. Costa afirma que a decisão ignora precedentes do STF e planeja recorrer ao Tribunal de Justiça de Rondônia.

"A Justiça precisa compreender que o esporte não é apenas lazer, mas um direito social que deve ser garantido a todos, independentemente de condições econômicas", defende o advogado.

Jovens de baixa renda são os mais prejudicados

A falta de acesso ao circuito oficial afeta diretamente o desenvolvimento de atletas que poderiam alcançar projeção nacional. Técnicos relatam que jovens com potencial para bolsas de estudo ou carreiras profissionais abandonam o esporte por não terem como custear a filiação.

"Perdemos talentos que poderiam representar Rondônia em competições importantes. O estado, já carente de políticas públicas para o esporte, perde a chance de formar atletas e promover o desenvolvimento social", diz um treinador que preferiu não se identificar.

Enquanto a legislação brasileira defende o esporte como direito social, a realidade em Rondônia expõe um abismo entre a teoria e a prática. A Lei Geral do Esporte proíbe medidas que limitem a democratização do acesso, mas a ausência de fiscalização mantém o taekwondo restrito a quem pode pagar.

A Federação de Taekwondo de Rondônia (FETRON) foi procurada pela reportagem, mas não respondeu até a publicação desta matéria.

Natália Figueiredo - Portal SGC

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