Como vive a população ‘mais isolada do mundo’ na Ilha Sentinela do Norte
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Localizada no meio do Oceano Índico, pouco se sabe sobre a população da Ilha Sentinela do Norte. O idioma falado e o número exato de indígenas isolados também permanecem desconhecidos para o restante do mundo.
Segundo uma pesquisa publicada pela revista Nature em 2024, os sentineleses apresentam um estilo de vida considerado ancestral. Utilizam ferramentas rudimentares, como lanças e arcos com flechas, tanto para caçar quanto para se defender de intrusos que tentam se aproximar do território, e foram considerados "caçadores-coletores dos tempos modernos".
Antropólogos estimam que entre 50 e 100 pessoas habitam o local, e seu estilo de vida permanece praticamente inalterado ao longo dos séculos.
O que se sabe sobre os sentineleses
O nome "sentinelese" não é uma autodenominação usada pela própria população, mas sim um termo atribuído por pesquisadores e administradores que estudam os costumes locais. A palavra é etimologicamente derivada do nome da ilha.
O grupo depende exclusivamente da natureza para sustento e sobrevivência. Pequenos abrigos de palha de palmeira com quatro postes de madeira foram flagrados no local.
Segundo os pesquisadores, os sentineleses se movem em grupos entre três a 18 pessoas para caçar e defender o território.
O pouco que se sabe sobre os habitantes da ilha, é que seus ancestrais migraram da África há cerca de 60 mil anos.
Sua cultura ainda não foi documentada, e nem mesmo o idioma que falam é compreendido pois trata-se de uma língua distinta das faladas nas ilhas vizinhas.
Visitas indesejadas
Todo o mistério que envolve a comunidade resultou em curiosos tentando visitar a ilha.
No último dia 29, o americano Mykhailo Viktorovych Polyakov, de 24 anos, foi preso após tentar entrar em contato com a tribo isolada. O jovem utilizava um barco inflável equipado com GPS, e carregava uma câmera e um colete salva-vidas.
Visitas à ilha são consideradas perigosas tanto para os visitantes, por possíveis ataques, quanto para os habitantes da ilha.
A diretora da organização Survival International, Caroline Pearce, classificou a tentativa de Polyakov como "profundamente irresponsável". "É inconcebível que alguém possa ser tão imprudente. Ele não apenas colocou sua vida em risco, mas também a sobrevivência de toda a tribo Sentinelese", afirmou.
Em mais uma tentativa de um visitante de conhecer membros dessa comunidade, Polyakov não apenas registrou parte de sua jornada, mas também deixou uma lata de refrigerante e um coco na praia.
Para a jornalista Janhavi Moole, da BBC Mundo, os criadores de conteúdo representam uma ameaça à preservação do isolamento dos povos que vivem na Ilha Sentinela do Norte.
"Os influenciadores são vistos como uma ameaça crescente ao povo indígena isolado", disse.
Antes de Polyakov, o último contato conhecido com a tribo, em 2018, terminou de forma trágica, quando o missionário cristão John Allen Chau foi morto por flechas ao tentar evangelizar os sentineleses.
Em 2006, dois pescadores que se aproximaram da ilha também foram mortos e seus corpos foram pendurados em estacas voltadas para o mar.
Especialistas alertam que qualquer interação com povos isolados pode representar um risco extremo à saúde dessas comunidades, já que eles não possuem imunidade a doenças comuns no mundo exterior, como gripe ou sarampo.
Como é a ilha
A Ilha Sentinela do Norte é classificada como uma reserva protegida sob o Regulamento de Proteção de Aldeias Aborígenes, de 1956, da Índia. A legislação estabelece medidas rigorosas para evitar qualquer interação entre pessoas não autorizadas e o grupo que vive no local, incluindo a delimitação de um perímetro de 5 milhas náuticas (cerca de 9,26 km) ao redor da ilha, que não pode ser ultrapassado por pessoas não autorizadas.
Nessas ilhas vivem cinco povos classificados como vulneráveis. Entre eles estão os Jarawa e os Sentineleses do Norte, que permanecem, em grande parte, isolados do restante do mundo.
D24am