Lara Abreu / Arte Metrópoles
O governo brasileiro ganhou mais alguns dias para avançar em negociações com a Casa Branca e lidar com a imposição de tarifas unilaterais de 50% sobre as exportações brasileiras aos Estados Unidos (EUA).
Na última quinta-feira (31/7), o presidente norte-americano Donald Trump assinou uma ordem executiva que impôs alíquotas que variam de 10% a 41% a diversos parceiros comerciais dos EUA, incluindo o Brasil.
O documento prevê que o chamado "tarifaço" entre em vigor sete dias após a publicação, em 6 de agosto, próxima quarta-feira. Com isso, países que ainda não conseguiram negociar as novas taxas correm para garantir espaço à mesa de negociações.
O Brasil é um dos mais impactados pela medida, considerada uma ação política pelo governo Lula (PT), já que o cerco judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem sido fortemente criticado pelo americano Donald Trump. Economistas ouvidos pelo Metrópoles alertam que tanto brasileiros quanto norte-americanos podem sair ganhando e perdendo com o tarifaço.
O tarifaço de Donald Trump
O presidente norte-americano Donald Trump assinou, em 31 de julho, ordem executiva que oficializou a tarifa de 50% contra os produtos exportados do Brasil para os Estados Unidos.
Na prática, os 50% são a soma de uma alíquota de 10% anunciada em abril, com 40% adicionais anunciados no começo do mês e oficializados na última quarta-feira (30/7).
Apesar disso, o líder norte-americano deixou quase 700 produtos fora da lista de itens afetados pela tarifa extra de 40%. Entre eles, suco de laranja, aeronaves, castanhas, petróleo e minérios de ferro.
Os produtos isentos serão afetados apenas com a taxa de 10%.
A previsão do governo norte-americano é de que o tarifaço entre em vigor em 6 de agosto.
Conforme os especialistas consultados pela reportagem, as medidas promovidas pelo governo norte-americano terão impactos significativos, seja do lado positivo ou negativo, tanto para Brasil quanto para os próprios Estados Unidos.
Os prós e contras para o Brasil
O economista Leonardo Costa, do ASA, ressalta que a isenção de alguns produtos estratégicos presentes na ordem executiva, como o petróleo, partes de aeronaves e celulose, "ajuda a mitigar os danos imediatos" para as empresas nacionais.
"A exclusão desses itens da nova tarifa resguarda segmentos com elevado valor agregado ou importância macroeconômica, como a indústria de aviação, papel e celulose e energia", destaca o economista.
Costa também observa que a extensão do prazo de vigência do tarifaço dá mais uma chance de o Brasil avançar nas articulações diplomáticas, conduzidas pelo Itamaraty, e nas negociações setoriais, que têm sido comandadas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Na avaliação do economista, essas tratativas "podem suavizar ainda mais os impactos", ou até mesmo retirar outros produtos da lista de implementação da nova sobretaxa de 50%.
Para Francisco Américo Cassano, professor e consultor de relações econômicas internacionais e comércio exterior, o Brasil pode se beneficiar do tarifaço da seguinte forma: valorizar o mercado interno, com a queda de preços de bens sem mercado no exterior; focar na expansão de parcerias comerciais; e aumentar o estímulo à inovação e competitividade.
No entanto, Cassano pontua que os dois últimos pontos dependem de tempo para se concretizar, ou seja, não são reféns apenas das tarifas unilaterais de Trump. A expansão do comércio exterior depende de uma série de fatores, como estabelecer confiança com outros países e blocos econômicos. No caso da inovação, o governo precisa captar investimentos para o país.
Do lado negativo, os destaques vão para:
a redução na receita, com reflexo na produção e no nível de emprego;
o desestímulo a investimentos com queda no fluxo de capital estrangeiro, principalmente tecnológico; e
o impacto nas cadeias produtivas, também com reflexo no setor produtivo e nos empregos.
Os pontos positivos e negativos para os EUA
Segundo Cassano, os pontos positivos estão relacionados à proteção da indústria nacional, com enfoque na geração de novos empregos; à redução de déficits comerciais; ao aumento do poder de barganha com melhoria nas negociações.
Costa explica que, para os Estados Unidos, o tarifaço "tem um viés interno eleitoral". "No curto prazo, pode haver ganhos políticos domésticos ao projetar uma postura protecionista firme, mas há também custos econômicos relevantes", diz.
O economista do ASA elenca que os principais impactos seriam: maior pressão inflacionária, risco de retaliações e possível encarecimento de insumos industriais estratégicos, em um momento em que os EUA tentam fortalecer a base manufatureira.
Tarifaço prejudicará comércio global
De acordo com Costa, o tarifaço tende a ser mais prejudicial do que benéfico para o comércio bilateral. "O Brasil, apesar de alguma blindagem parcial graças às isenções e à estrutura concentrada de sua pauta, não sai ileso", reforça.
Ele entende que a tensão entre Brasil e EUA "reforça a importância de diversificação de destinos e maior inserção em cadeias globais com menor exposição a choques unilaterais".
O plano do governo Lula
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na última sexta-feira (1º/8) que há medidas formatadas que serão apresentadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele ainda negou qualquer plano de retaliação contra os EUA.
Segundo Haddad, o plano de contingência ao tarifaço está sendo "calibrado" e, assim que a equipe econômica finalizar o refino das medidas, a proposta será encaminhada a Lula. Ele também informou que o plano ficará dentro da meta fiscal.
"Na nossa proposta que está sendo encaminhada não vai exigir isso. Embora tenha havido da parte do Tribunal de Contas [da União] a compreensão de que se fosse necessário [abertura de crédito extraordinário], mas não é nossa demanda inicial. Entendemos que conseguimos operar dentro do marco fiscal, sem nenhum tipo de alteração", disse a jornalistas.
A expectativa é que, a partir desta semana, o governo tome as primeiras medidas para proteger a indústria, a agricultura e os empregos do país.
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