Diplomacia do Brasil evita rebater ataques dos EUA nas redes sociais
Win McNamee/Getty Images
Donald Trump inaugurou, em seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, uma nova modalidade de política externa baseada em ataques e declarações polêmicas, feitas ou reforçadas por embaixadas norte-americanas nas redes sociais. Até o momento, porém, a diplomacia do Brasil tem se mantido afastada das provocações, e busca atuar por vias tradicionais.
Crise entre Brasil e EUA
Desde o início de julho, Brasil e Estados Unidos entraram em rota de colisão.
A crise entre os dois países teve início após Donald Trump aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A medida, segundo o presidente dos EUA, é uma resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Além disso, o governo norte-americano tem atacado diretamente o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na tentativa de interferir na Justiça do Brasil.
O juiz brasileiro foi sancionado com base na Lei Magnitsky, e também perdeu o visto norte-americano revogado, assim como outros sete ministros do STF.
Apesar das manifestações — que visam defender principalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro — a diplomacia do Brasil tem adotado uma postura cautelosa quanto as publicações compartilhadas pela embaixada dos EUA em Brasília. Fontes ligadas ao Ministério das Relações Exteriores, ouvidas pelo Metrópoles sob condição de anonimato, afirmam que a tendência é de que a postura continue sendo a mesma adotada desde o início da crise.
Segundo levantamento realizado pela reportagem, a embaixada dos EUA no Brasil publicou, ou compartilhou, ao menos 11 declarações criticas ao governo ou autoridades brasileiras desde o início de julho. Publicações estas que destoam da tradição diplomática adotada pela maioria da comunidade internacional.
A primeira delas foi divulgada em 14 de julho, seis dias após Trump anunciar a tarifa de 50% contra os produtos do Brasil. Na época, a representação diplomática traduziu um comunicado do Alto Funcionário para Diplomacia Pública do Departamento de Estado dos EUA, Darren Beattie, sobre a retaliação econômica
"Trump enviou uma carta impondo consequências há muito esperadas ao Supremo Tribunal de Moraes e ao governo Lula, em resposta aos ataques a Jair Bolsonaro, à liberdade de expressão e ao comércio dos EUA", escreveu Beattie na publicação compartilhada pela embaixada. "Esses ataques são vergonhosos e desrespeitam as tradições democráticas do Brasil. As declarações do presidente Trump são claras. Estamos acompanhando de perto a situação".
A maioria das publicações veiculadas nas redes sociais da embaixada dos EUA em Brasília focaram em ataque contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Atualmente, o juiz brasileiro é alvo de sanções norte-americanas da Lei Magnitsky, e teve seu visto revogado junto de outros sete magistrados da Corte brasileira.
Para o governo norte-americano, Moraes é visto como "violador de direitos humanos" por conta do julgamento de Jair Bolsonaro (PL). Apesar das evidências que ligam o ex-presidente a uma organização criminosa que tentou realizar um golpe de Estado no Brasil, Trump diz acreditar na inocência do ex-capitão do Exército — retórica que também é adotada por parlamentares bolsonaristas no Brasil.
Além de ataques contra a atuação do ministro, as publicações da embaixada dos EUA também criticaram a relação comercial entre os dois países, e comentou a decisão de revogar vistos de autoridades brasileiras ligadas ao programa cubano Mais Médicos.
Itamaraty mantém "tradição"
A única manifestação pública do Itamaraty sobre a atividade da embaixada dos EUA nas redes sociais aconteceu em 15 de julho, por meio de nota oficial.
Nela, a chancelaria brasileira criticou o que chamou de "manifestações indevidas" do Departamento de Estado dos EUA e de sua embaixada em Brasília. O texto classificou a atuação da diplomacia norte-americana como "intromissão indevida e inaceitável em assuntos de responsabilidade do Poder Judiciário brasileiro".
Além da nota, o Itamaraty também convocou o encarregado de Negócios da representação norte-americana no Brasil, Gabriel Escobar, em três ocasiões para da tratar da crise diplomática entre Washington e Brasília.
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