Foto: Hugo Barreto/Metrópoles
São Paulo - A descoberta de diferentes planos de fuga ou atentados contra autoridades já motivou ao menos quatro pedidos de transferência para que Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, principal líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), fique encarcerado no sistema penitenciário federal.
Nesse tipo de cadeia, Marcola tem rotina rígida, é mantido em isolamento, vive supervigiado e perde direito à visita íntima. O chefão do PCC foi levado para o sistema de segurança máxima em fevereiro de 2019, logo após um plano de resgate em São Paulo vir à tona, e atualmente está na Penitenciária Federal de Brasília.
Por causa da rigidez do sistema federal, a permanência de qualquer preso precisa ser renovada pela Justiça todos os anos. Para isso, devem ser apresentadas evidências que demonstrem que o encarcerado continua cometendo delitos ou exercendo ativamente cargo de liderança de alguma facção criminosa.
No caso de Marcola, o episódio comprometedor mais recente foi revelado, nesta semana, pela coluna Na Mira, do Metrópoles. A Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) alega haver um plano em curso para sequestrar e matar policiais penais federais e afirma que vai transferir o líder do PCC para outra unidade de segurança máxima.
A descoberta do plano, que envolveria oferecer os servidores como moeda de troca para liberar a cúpula do PCC, coincide com o andamento do processo para renovar a permanência de Marcola no sistema federal no próximo ano. Na Justiça, o pedido ainda não tem decisão.
Marcola
Condenado a mais de 330 anos de prisão, Marcola é apontado como chefão do PCC desde início dos anos 2000. Antes de pisar pela primeira vez no sistema federal, ele e a cúpula da facção estavam encarcerados na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior paulista.
Em outubro de 2018, um informante do Ministério Público de São Paulo (MPSP) delatou um plano milionário para resgatar Marcola e outros 14 membros da alta cúpula da cadeia estadual. O planejamento envolvia uma onda de ataques na cidade, para impedir a reação da polícia, e até a contratação de mercenários africanos, experts em armas pesadas.
A denúncia do informante serviu como base para a Justiça aceitar transferir o chefão do PCC para a Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia, quatro meses depois, em fevereiro de 2019.
Marcola, no entanto, ficou só de passagem naquela unidade e logo foi transferido, no mês seguinte, para Brasília. Na capital, o líder ficaria por três anos.
À época, o Ministério da Justiça informou que a ação fazia parte "dos protocolos de segurança pública relativa à alternância de abrigo dos detentos de alta periculosidade ou integrantes de organizações criminosas entre as unidades prisionais federais".
Presídios federais
A chegada do chefão do PCC à capital federal causou reações políticas. Na época, o governador Ibaneis Rocha (MDB) ficou indignado e afirmou que era "inadmissível aceitar a instalação do crime organizado na capital da República".
Em dezembro de 2019, também às vésperas de a renovação no sistema penitenciário ser julgada, a suspeita de um plano de fuga de Marcola fez equipes do Exército Brasileiro mobilizarem uma força-tarefa nas imediações do presídio.
O plano seria liderado por Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, um dos maiores narcotraficantes brasileiros e sócio de Marcola. Investigadores afirmam que o PCC chegou a sobrevoar a Penitenciária Federal de Brasília com o uso de drones.
Marcola, entretanto, só deixaria aquela unidade em março de 2022, quando voltou para Porto Velho. A estadia em Rondônia durou pouco. Em agosto de 2022, novo plano de resgate do chefão do PCC foi descoberto pelas autoridades.
Investigadores estimam que a fação teria investido cerca de R$ 60 milhões para retirá-lo de Porto Velho (RO). O esquema envolveria o uso de blindados e aeronaves.
A descoberta motivou o retorno de Marcola para Brasília, realizado em janeiro de 2023. Pouco depois, a Polícia Federal (PF) desarticulou uma retaliação do PCC que teria como alvo o senador Sergio Moro (União-PR), a família dele e o promotor Lincoln Gakiya, do MPSP.
Por motivos de segurança, o novo destino do chefão do PCC ainda é guardado em segredo.
A novela sobre a transferência de Marcola surge no momento em que o governo federal lida com outro caso delicado envolvendo uma facção rival do PCC. Uma crise se instalou no Ministério da Justiça desde a revelação das visitas feitas à pasta de Flávio Dino por Luciane Barbosa Farias, a "dama do tráfico", esposa do traficante e líder do Comando Vermelho (CV) no Amazonas, Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas.
O Metrópoles procurou a defesa de Marcola para falar sobre o caso, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestação.
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