Foto: Reprodução
Porto Velho, enfrenta uma crescente onda de violência contra as mulheres, refletida em números alarmantes e casos recentes que chocaram a cidade. Em apenas uma semana, diversos episódios de agressões, tentativas de homicídios e homicídios foram registrados, revelando uma realidade cada vez mais preocupante para as autoridades e para as organizações de defesa dos direitos humanos. Casos divulgados recentemente pelo Portal SGC, como o assassinato de uma mulher em frente à sua casa na zona sul da cidade, o esfaqueamento de outra vítima pelo ex-companheiro e a descoberta de uma jovem gravemente ferida na zona leste, são apenas uma amostra de uma problemática que afeta centenas de mulheres na região.
LEIA TAMBÉM:
O cenário é ainda mais grave quando analisamos as estatísticas. Porto Velho ocupa a segunda posição entre os municípios brasileiros com maior número de casos de estupros, e o estado de Rondônia é o mais violento do Brasil para as mulheres. Dados do Anuário da Segurança Pública de 2024 destacam que, em 2022, a cidade registrou 24 assassinatos de mulheres, um número preocupante, que reflete a urgência em se revisar e aprimorar as políticas públicas de proteção.
De acordo com o Atlas da Violência 2024, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a situação em Rondônia é ainda mais alarmante. A pesquisa revela que o estado enfrenta altos índices de homicídios, violência de gênero, racismo estrutural e até suicídios. Um fator agravante é a subnotificação, já que, em 2023, 61% das mulheres vítimas de agressão não registraram ocorrência, o que dificulta o diagnóstico real do problema e a implementação de políticas públicas mais eficazes.
Em nível nacional, o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp) apontou 584 feminicídios registrados no Brasil até março de 2024, enquanto o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) registrou 3.423 mortes violentas de mulheres em 2022. Rondônia, por sua vez, teve uma taxa de feminicídios de 24 casos por 100 mil mulheres e uma taxa de homicídios dolosos contra mulheres de 88 por 100 mil, além de 3.910 casos de lesão corporal dolosa. Esses números evidenciam a alta incidência de violência doméstica na região e o quão vulneráveis muitas mulheres se encontram.
O QUE EXPLICA ESSA REALIDADE EM PORTO VELHO?
Segundo pesquisa divulgada pela Revista Brasileira de Segurança Pública, um dos principais entraves identificados é a falta de capacitação profissional nos serviços de atendimento às mulheres vítimas de violência. Além disso, políticas públicas ainda não consideram adequadamente as especificidades regionais, como é o caso das mulheres indígenas e rurais, que enfrentam ainda mais dificuldades para acessar os serviços de proteção.
Os dados também mostram que a violência doméstica e familiar, especialmente em suas formas física e psicológica, como ameaças e lesões corporais, continua sendo um dos tipos de violência mais prevalentes na cidade. As vítimas, muitas vezes, enfrentam barreiras para denunciar seus agressores, o que contribui para o ciclo de violência.
SERVIÇOS DE APOIO ÀS MULHERES
Apesar do cenário desolador, Porto Velho oferece diversos serviços de apoio e acolhimento às mulheres vítimas de violência. A Central de Atendimento à Mulher (180), um serviço gratuito e anônimo disponível 24 horas, é uma das principais formas de denúncia. Além disso, a Delegacia da Mulher e Família, especializada em atender casos de violência doméstica e sexual, e o CREAS Mulher, da Secretaria Municipal de Assistência Social, oferecem orientação e suporte psicológico.
Outros serviços incluem a Maternidade Municipal Mãe Esperança, que oferece atendimento especializado a mulheres vítimas de violência sexual a partir dos 12 anos, e o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), que oferece suporte psicológico e recuperação emocional.
Apesar dos serviços existentes, as pesquisas indicam que a violência doméstica e familiar, especialmente os crimes de ameaça e lesão corporal, continuam a ser os mais frequentes em Porto Velho, ressaltando a necessidade de uma abordagem mais ampla e eficaz para combater a violência de gênero na cidade.
Natália Figueiredo - Portal SGC