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Cartel da anestesia: médico foi condenado por deixar paciente em estado vegetativo

A investigação aponta ainda que a organização criminosa atuava de forma estruturada e duradoura, restringindo a livre concorrência


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Cartel da anestesia: médico foi condenado por deixar paciente em estado vegetativo

Reprodução

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A coluna apurou, com exclusividade, que um dos principais alvos da Operação Toque de Midaz deflagrada na manhã desta quinta-feira (10/4) pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), em ação conjunta com o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), é o médico José Silvério Assunção (foto em destaque). Ele é suspeito de integrar cartel milionário formado por médicos anestesistas. O médico já foi condenado judicialmente por erro médico ao deixar uma paciente em estado vegetativo.

A operação, conduzida pela Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), mira sete profissionais ligados à Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do Distrito Federal (Coopanest-DF), acusada de práticas anticompetitivas como intimidação de colegas, monopólio de serviços anestésicos em hospitais estratégicos da capital, além de manipulação de valores pagos por planos de saúde.

A investigação aponta ainda que a organização criminosa atuava de forma estruturada e duradoura, restringindo a livre concorrência no setor médico.

Segundo o site oficial da cooperativa, José Silvério ocupa o cargo de vice-presidente do grupo. Ele foi alvo de mandado de busca e apreensão em sua residência. A coluna também apurou que outro integrante da diretoria, Pablo Pedrosa Guttenberg — integrante do Conselho Fiscal da mesma entidade — também foi alvo da operação. A polícia cumpriu mandado em seu apartamento de alto padrão.

Condenação por erro médico grave

José Silvério foi condenado por negligência médica em um caso que resultou no estado vegetativo permanente de uma paciente após complicações anestésicas em uma cirurgia de apendicite. O caso, ocorrido no Hospital Santa Lúcia, foi considerado um marco na responsabilização por erro médico no Brasil.

A paciente ficou em estado vegetativo de 2006 até 2018, quando faleceu. Segundo decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), José Silvério foi considerado negligente por não acompanhar adequadamente a paciente durante a recuperação anestésica.

A corte destacou que sua ausência no momento da parada cardiorrespiratória comprometeu o atendimento e contribuiu para as lesões cerebrais irreversíveis. A defesa do médico recorreu até a última instância, mas foi derrotada em todos os recursos interpostos.

Cartel

A cooperativa investigada, que tem forte presença no mercado de anestesiologia do DF, é acusada de ameaçar e pressionar profissionais que tentavam atuar de forma independente. Médicos não alinhados às diretrizes do grupo sofriam, segundo as investigações, ameaças de descredenciamento, exclusão da cooperativa e até coação física e psicológica.

A operação "Toque de Midaz" — nome que remete ao rei Midas, símbolo de ganância, combinado ao sedativo Midazolam — contou com apoio da Divisão de Inteligência Policial (Dipo). Os suspeitos poderão responder por organização criminosa, formação de cartel, constrangimento ilegal e lavagem de dinheiro.

A coluna não localizou a defesa do médico. O espaço segue aberto para manifestações.

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