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Um tema histórico da classe trabalhadora está de volta ao centro das discussões nacionais: a redução da jornada de trabalho sem redução salarial. A proposta, que poderá impactar diretamente mais de 290 mil trabalhadores em Rondônia, foi abordada no episódio mais recente do podcast Põe na Bancada, apresentado por Roberto Sobrinho.
A medida, que deve ganhar força no Congresso Nacional a partir de 2025, será tema de uma grande mobilização marcada para o dia 29 de abril, em Brasília. Na ocasião, centrais sindicais e lideranças vão discutir qual projeto possui maior viabilidade política para avançar no Legislativo.
Enquanto a decisão depende de aprovação do Congresso, especialistas e sindicalistas ouvidos no podcast ressaltaram que o governo federal apoia a pauta. Para eles, é essencial que o avanço tecnológico se traduza em benefícios sociais e não apenas em aumento de lucros para as empresas. Lembraram ainda que direitos como férias, 13º salário e jornada semanal limitada também enfrentaram forte resistência empresarial antes de se tornarem leis.
Se a proposta avançar, trabalhadores de setores como supermercados, farmácias, postos de combustíveis, lojas e comércios em geral poderão conquistar dois dias de folga por semana, sem perdas salariais — o que representa mais tempo com a família e mais qualidade de vida.
"A jornada está destruindo as famílias", afirma Elzilene Nascimento
A presidenta da CUT Rondônia, Elzilene Nascimento, fez duras críticas ao atual modelo de jornada 6x1, que prevê apenas um dia de descanso para cada seis dias de trabalho. Segundo ela, a sobrecarga atinge especialmente as mulheres, que ainda enfrentam a chamada "dupla jornada": o trabalho remunerado e as tarefas domésticas e de cuidado com os filhos.
"Elas acordam cedo, cuidam da casa, trabalham o dia todo, e à noite continuam com as obrigações domésticas. E tudo isso por um salário mínimo. Isso está adoecendo as mulheres e desestruturando as famílias", alertou.
Elzilene também destacou que a maior parte dessas mulheres são chefes de família e moradoras de periferias, com jornadas extensas e pouco tempo livre. Para ela, a redução da carga horária representa não só um direito trabalhista, mas também uma reparação social.
Ela citou como exemplo o setor da construção civil, onde a jornada de 40 horas semanais — com o sábado sendo opcional e remunerado como extra — já é uma realidade desde 2011. "Se funciona em um setor tão exigente, pode funcionar em qualquer outro. O que falta é vontade política", completou.
Projeto ameaça empregos nos postos de combustíveis, denuncia sindicalista
Durante o episódio, o dirigente sindical dos frentistas, Ageu Gomes, trouxe uma denúncia que acendeu o alerta entre os trabalhadores do setor: o Projeto de Lei 5243/2023, de autoria do senador Jaime Bagattoli (PL-RO), que propõe a liberação do autosserviço nos postos de combustíveis.
A proposta, segundo ele, pode extinguir mais de 7 mil postos de trabalho somente em Rondônia. "Enquanto lutamos por mais empregos, o senador quer acabar com uma categoria inteira. Isso é um ataque direto aos trabalhadores", criticou.
Ageu também revelou que tentativas de diálogo com Bagattoli foram ignoradas. "Buscamos até apoio de lideranças religiosas para conseguir uma reunião, mas não tivemos retorno. É um descaso com milhares de famílias."
Além da questão do emprego, o sindicalista alertou para os riscos à saúde dos trabalhadores. "Lidamos com substâncias perigosas, como o benzeno, que é cancerígeno. O projeto ignora completamente esses riscos. É um absurdo."
CUT prepara plebiscito popular e marcha nacional por jornada menor
O Secretário Nacional de Comunicação da CUT, Tadeu Porto, anunciou no podcast o lançamento de um plebiscito popular — tanto presencial quanto online — para ouvir a população sobre a proposta de redução da jornada. A iniciativa integra as ações do Dia do Trabalhador, em 1º de Maio, e da mobilização em Brasília, no fim do mês.
Tadeu destacou que o governo federal vê com bons olhos a pauta, por entender que ela representa um avanço civilizatório diante da automação crescente. "A inovação deve estar a serviço da sociedade, e não apenas do lucro. Com mais produtividade, é inaceitável que só o capital se beneficie", afirmou.
Para ele, reduzir a jornada é um passo natural e necessário frente às transformações tecnológicas. "Não se trata de voltar ao passado, mas de construir uma economia mais justa, com mais saúde, tempo para a família e bem-estar coletivo", disse.
Tadeu concluiu com uma reflexão: "Por muito tempo tentaram nos convencer de que só poderíamos escolher entre emprego ou direitos. Mas a verdade é que podemos — e devemos — ter os dois."
Assista ao episódio completo no YouTube!
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