Rondônia

Acir comemora o Eixo Ferroviário Leste-Oeste que poderá unir o Brasil aos oceanos Atlântico e Pacífico

Uma luz no fim do trilho


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Foto: Valor&MercadoRO/ PORTAL SGC

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Há décadas, o transporte de cargas no Brasil depende majoritariamente das rodovias. Segundo o Plano Nacional de Logística 2025, cerca de 65% de todas as mercadorias circulam por estradas, especialmente em caminhões. Mas esse cenário pode mudar nos próximos anos com os avanços nas conversas entre Brasil e China sobre a construção de ferrovias estratégicas — algumas delas com passagem confirmada por Rondônia.

O principal projeto em andamento é a Ferrovia Bioceânica Brasil-Peru, que ligará o Atlântico ao Pacífico. Com 30% dos 4.400 km já concluídos, a obra deve ser finalizada até 2028. A rota parte de Ilhéus, na Bahia, passando por Caetité (BA), estados do Centro-Oeste e Norte, incluindo Goiás ou Tocantins, Mato Grosso, Rondônia e Acre, até alcançar o porto de Chancay, no Peru, onde a China já opera um megaporto.


A estimativa é que, com a integração ferroviária, o tempo de transporte entre o Brasil e a China seja reduzido em até 10 dias, se comparado à rota atual pelo Oceano Atlântico. O projeto prevê interligação com a Ferrovia Norte-Sul e a Ferrovia de Integração Oeste-Leste, promovendo uma transformação logística no continente sul-americano.

Além da Bioceânica, outras rotas estão em estudo por gigantes chinesas como a China Railway Construction Corporation (CRCC) e a China Railway Engineering Corporation (CREC). Entre elas, destaca-se uma linha que parte do Porto do Açu (RJ), passa por Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, e chega até Porto Velho (RO). Outro projeto prevê 2.396 km de ferrovia entre o Porto de Santos (SP) e Antofagasta, no Chile, cruzando o Paraguai e a Argentina.

Em entrevista recente, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, confirmou que a parceria com a China é prioridade desde o início do atual governo. "Eles querem rasgar o Brasil com ferrovias", declarou. A ministra ressalta, porém, que não há orçamento público suficiente para bancar sozinha essas obras, o que reforça a necessidade de investimento estrangeiro.

O papel de Acir Gurgacz na articulação do projeto em Rondônia

O interesse da China em Rondônia não é novo. Em junho de 2015, o então senador Acir Gurgacz (PDT) recebeu uma comitiva de 23 empresários chineses, liderada pelo embaixador Li Jinzhang, para conhecer o possível traçado da ferrovia no estado. A visita ocorreu após o Brasil firmar uma parceria estratégica com a China para obras de infraestrutura.

A comitiva desembarcou em Porto Velho e seguiu até Ji-Paraná, onde percorreu parte da BR-364, corredor logístico que poderá ser acompanhado pelo futuro trajeto ferroviário. Segundo Gurgacz, a ferrovia deve fortalecer a estrutura intermodal de transportes do Arco Norte, com Porto Velho como polo de escoamento do agronegócio pelo rio Madeira.


"É mais uma oportunidade para defender que as obras da ferrovia comecem em Porto Velho, na direção de Vilhena e Lucas do Rio Verde, e, depois, avancem para o Acre e o Peru", afirmou Gurgacz à época.

O projeto estudado previa a construção de uma linha ligando o porto de Ilo (sul do Peru) ao Porto do Açu (RJ), passando por Rondônia, Mato Grosso e Acre, com custo estimado em US$ 10 bilhões (cerca de R$ 33 bilhões, em valores de 2015).

Impacto no transporte rodoviário e na indústria de caminhões

Apesar da expectativa por mudanças, o avanço ferroviário não deve eliminar o transporte rodoviário. Em 2024, o Brasil produziu 149.146 caminhões, sendo 7.894 em sistema CKD (montagem local). O recorde de produção foi em 2011, com 229.083 unidades.

Segundo a Anfavea, entidade que representa os fabricantes de veículos, seis empresas atuam na produção de caminhões no país: Agrale, DAF, Iveco, Mercedes-Benz, Scania, Volkswagen e Volvo — a maioria também com produção de ônibus.

Ainda que as ferrovias possam reduzir o domínio dos caminhões nas estradas, especialistas destacam que elas devem complementar o sistema de transporte atual, tornando-o mais eficiente e seguro. A redução da dependência rodoviária também pode aliviar os custos logísticos, diminuir os riscos nas estradas e evitar paralisações em caso de greves.


Taylor Cardoso - Portal SGC



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