Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Um levantamento realizado pela Fiocruz Brasília e o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde, da Universidade de São Paulo, a pedido da organização não-governamental ACT Promoção da Saúde, apontou que o consumo de alimentos ultraprocessados custa R$ 10,4 bilhões por ano à saúde e à economia no Brasil.
O montante engloba custos diretos do tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente nos casos de hipertensão, obesidade e diabetes tipo 2. Além de valores previdenciários e as perdas econômicas devido às mortes atribuídas ao consumo de ultraprocessados.
O valor total está dividido da seguinte maneira:
R$ 9,2 bilhões por ano são por mortes prematuras (custos que representam as perdas econômicas pela saída de pessoas em idade produtiva do mercado de trabalho);
R$ 933,5 milhões por ano são os custos com o tratamento no SUS (hospitalares, ambulatoriais e com o programa Farmácia Popular), com diabetes, hipertensão e obesidade;
R$ 263,2 milhões por ano são custos previdenciários (aposentadoria precoce e licenças médicas) e custos por absenteísmo (internações e licenças médicas).
Em nota ao g1, a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) disse repudiar o "relatório da ACT e as acusações contra a Indústria de Alimentos". "Trata-se de um relatório superficial, que se baseia em dados de risco relativo extraídos de estudos já classificados como de baixa qualidade, os quais não foram realizados no Brasil e não incluem informações específicas sobre o país", afirma a ABIA.
Peso dos ultraprocessados
A pesquisa apontou que dos R$ 9,2 bilhões gastos que são relacionados à mortalidade prematura - também chamado de custo indireto estão divididos em:
• 71,73% (ou R$ 6,6 bilhões) referem-se aos custos da mortalidade entre os homens;
• e 28,26% (ou R$ 2,6 bilhões) entre as mulheres.
Além disso, se considerado todo o gasto público do SUS com pessoas que desenvolveram diabetes, hipertensão e obesidade, 25% (ou R$ 933,5 milhões) é destinado somente a pacientes que tiveram essas doenças devido ao consumo de ultraprocessados.
O estudo também trouxe um detalhamento por estado das mortes precoces associadas ao consumo de ultraprocessados. Em 2019, no Brasil, 57 mil mortes são atribuíveis a esses alimentos - o número equivale a 10,5% do total de mortes no país.
Veja abaixo os sete estados onde a proporção de mortes por ultraprocessados foi maior que a média nacional na época:
• Rio Grande do Sul (13%);
• Santa Catarina (12,5%);
• São Paulo (12,3%);
• Distrito Federal (11,7%);
• Amapá (11,1%);
• Rio de Janeiro (10,9%);
• e Paraná (10,7%).
"Os dados dessa pesquisa mostram a urgência da adoção de políticas públicas voltadas para a redução do consumo de produtos ultraprocessados, como tributação adequada ou a reforma tributária, a rotulagem nutricional e a regulação da venda e marketing desses produtos, entre outras estratégias para reduzir a carga epidemiológica e econômica das doenças associadas ao consumo no Brasil", afirmou Eduardo Nilson, pesquisador responsável pelo estudo.
Vale destacar que o levantamento não contabilizou os custos diretos de todas as doenças associadas a ultraprocessados. O estudo limitou-se aos valores federais do SUS, e apenas da população adulta. Além disso, não considerou os gastos com doenças na atenção primária (acompanhamento da população pelas unidades básicas de saúde e equipes de saúde da família), na saúde suplementar ou nos gastos particulares. E, devido a restrições metodológicas, os cálculos indiretos incluem somente a população formalmente empregada.
Ou seja, para Nilson, como não é possível contabilizar todo o impacto, "esses números [de R$ 10,4 bilhões] são apenas a ponta do iceberg de um problema e impacto econômico muito maior".
G1