Saúde

SGC TV: Brasil registra quase 40 mil incidentes com recém-nascidos em oito anos

Pesquisa da Sobrasp com UFSCar e Anvisa analisou dados de 2014 a 2022


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Um estudo realizado pela Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (Sobrasp), em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), analisou quase uma década de dados e identificou um cenário preocupante nos serviços de saúde do Brasil. Entre 2014 e 2022, foram registrados 39.373 incidentes envolvendo recém-nascidos com menos de 28 dias de vida, conforme notificações do sistema Notivisa, da Anvisa.

A esmagadora maioria desses incidentes (99,1%) aconteceu em ambientes hospitalares. Do total analisado, 68,3% foram classificados como eventos adversos, ou seja, situações que poderiam ser evitadas e que, neste contexto, não causaram danos graves aos pacientes.

A neonatologista Dra. Cristina Ortiz, uma das especialistas citadas no estudo, aponta para uma deficiência no treinamento dos profissionais de saúde como um dos fatores relevantes. "É importante que [a capacitação] seja feita em conjunto... Muitos profissionais ainda não têm um treinamento adequado", destacou.

Os dados revelam quais são as falhas mais frequentes. Os incidentes com cateteres venosos - tubos finos inseridos em veias para facilitar o acesso à corrente sanguínea - lideram as ocorrências, representando 16,7% do total. Em seguida, aparecem lesões por pressão (10,8%), falhas relacionadas a sondas (6,5%), extubações acidentais (5,7%) e quedas de pacientes (2,6%).

A enfermeira Mara Bastos chama a atenção para outro problema grave: a má administração de medicamentos durante a internação dos recém-nascidos. Ela ressalta que o erro não está apenas na medicação do bebê, mas em todo o processo, desde a prescrição até a administração, e que tais falhas podem ter consequências que vão desde danos leves até óbito.

A distribuição geográfica dos eventos adversos mostra que a região Sudeste teve a maior proporção de notificações, com 15.633 casos. O Nordeste aparece em segundo lugar (10.180), seguido pelo Centro-Oeste (6.840), Sul (6.071) e Norte (649).

O estudo também identificou limitações no sistema Notivisa ao longo dos anos analisados, como categorias pouco claras e informações incompletas, o que comprometia parte da precisão dos registros. Em 2025, a Anvisa atualizou a plataforma, aprimorando critérios e a classificação dos incidentes, medida que deve melhorar a vigilância e ajudar na prevenção.

Os números mostram que ainda há muito a avançar, mas também reforçam a importância da notificação, da prevenção e do compromisso com a qualidade da assistência. A enfermeira Mara Bastos complementa enfatizando a necessidade de investimento contínuo na capacitação dos profissionais. "As capacitações têm que ser permanentes em toda a área da saúde", concluiu.


Samara Santos - Portal SGC

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