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Jejum potencializa tratamento contra câncer de mama, revela estudo

Estudo revela que a restrição alimentar reprograma células tumorais


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Um novo estudo publicado na última terça-feira (10) na revista científica Nature trouxe uma descoberta promissora para o tratamento do câncer de mama: o jejum periódico pode potencializar a ação dos medicamentos hormonais, freando o crescimento do tumor. Mais importante ainda, os cientistas identificaram que um medicamento anti-inflamatório comum, a dexametasona, é capaz de imitar os efeitos benéficos do jejum, oferecendo uma alternativa para pacientes que não podem ou não desejam realizar restrições alimentares severas.

A pesquisa focou no câncer de mama positivo para receptores hormonais (HR+), que corresponde a cerca de 75% dos diagnósticos da doença. O tratamento padrão para esses casos é a terapia endócrina, que utiliza medicamentos como o tamoxifeno para bloquear a ação de hormônios que alimentam o câncer.

Ao realizarem testes em camundongos com tumores humanos, os pesquisadores observaram que ciclos semanais de jejum de 48 horas, combinados com o tamoxifeno, resultaram em uma "reprogramação" profunda das células cancerígenas. Essa combinação foi muito mais eficaz do que o uso do medicamento isolado.

Como o jejum atua nas células

Para entender o mecanismo, a equipe realizou uma análise genética detalhada. Eles descobriram que o jejum altera a forma como o DNA do tumor é lido. A restrição alimentar reduziu a atividade de uma proteína chamada AP-1, conhecida por estimular o crescimento do câncer. Simultaneamente, o jejum ativou receptores de glicocorticoides (GR) e de progesterona, criando um ambiente celular que impede a proliferação do tumor.

A chave para esse processo está nos hormônios naturais do corpo. O jejum eleva os níveis de cortisol (o hormônio do estresse) e de progesterona no sangue. Foi esse aumento que ativou os receptores nas células tumorais e melhorou a resposta ao tratamento.

Remédio substitui a dieta

Com base nessa descoberta hormonal, os cientistas testaram uma nova hipótese: seria possível obter o mesmo resultado administrando um medicamento que atue como o cortisol, sem precisar submeter o paciente ao jejum?

A resposta foi positiva. O uso de dexametasona — um corticoide sintético amplamente disponível — combinado ao tamoxifeno reproduziu a mesma atividade antitumoral observada com o jejum.

A grande vantagem da abordagem farmacológica é evitar a perda de peso, um efeito colateral comum do jejum que pode ser indesejável para pacientes com câncer já debilitados. Nos testes, os animais tratados com o corticoide mantiveram o peso estável, enquanto o grupo submetido ao jejum emagreceu.

Perspectivas futuras

Os pesquisadores validaram os resultados em diferentes modelos de câncer de mama e observaram também efeitos positivos no sistema imunológico, sugerindo que a combinação pode ajudar o corpo a combater o tumor de múltiplas formas.

Embora corticoides já sejam usados na medicina para tratar inflamações e alergias, eles não fazem parte do protocolo padrão para aumentar a eficácia da terapia hormonal no câncer de mama. O estudo sugere que essa classe de medicamentos pode representar uma nova estratégia terapêutica, transformando uma resposta biológica natural à privação de alimentos em um tratamento clínico controlado e acessível.

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