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PORTO VELHO — Rondônia tem mais de 110 mil propriedades rurais. Dessas, aproximadamente 91 mil pertencem à agricultura familiar. Essa realidade, que representa a maioria dos produtores do estado, segue sem o respaldo proporcional nos orçamentos públicos e nas decisões políticas. É esse desequilíbrio que o episódio *Rondônia que Alimenta e Resiste: Vozes da Agricultura Familiar* do podcast *Põe na Bancada*, apresentado por Roberto Sobrinho, traz à tona na mediação do próprio apresentador, que também já foi prefeito da capital e conhece de perto os desafios da zona rural.
Rondônia tem mais de 110 mil propriedades rurais. Dessas, aproximadamente 91 mil pertencem à agricultura familiar. Essa realidade, que representa a maioria dos produtores do estado, segue sem o respaldo proporcional nos orçamentos públicos e nas decisões políticas. É esse desequilíbrio que o episódio Rondônia que Alimenta e Resiste: Vozes da Agricultura Familiar do podcast Põe na Bancada, apresentado por Roberto Sobrinho, traz à tona.
A agricultura familiar é caracterizada por pequenas propriedades, até 240 hectares, administradas por famílias e com produção diversificada. Já o agronegócio empresarial trabalha em larga escala, voltado à monocultura e à exportação.
"Quem coloca comida na mesa é a agricultura familiar. O agronegócio exporta", resumiu Gervano Vicente.
Cláudia de Jesus reforçou:
"A diversidade está com o agricultor familiar. Ele planta arroz, feijão, mandioca, milho, hortaliça. Ele alimenta a cidade."
Apesar de responder por 76% a 80% da alimentação consumida no Brasil, o agricultor familiar não tem acesso equivalente a orçamento e políticas públicas.
Em Rondônia, o orçamento destinado à agricultura em 2024 é de cerca de R$ 74 milhões — incluindo Seagri, Emater e Idaron — contra um orçamento geral estadual de mais de R$ 17 bilhões. Isso representa menos de 0,5%.
"A maioria das terras é da agricultura familiar, mas os recursos não chegam. Falta representatividade. Quem nos representa no Congresso e na Assembleia? Em geral, o grande", criticou Cláudia.
Lazinho relembrou que em 2002 apenas sete deputados federais se declaravam agricultores familiares. Ainda assim, foi nesse período que se consolidaram políticas como o Luz para Todos, habitação rural e a própria Lei da Agricultura Familiar, aprovada em 2006.
A ausência de títulos de propriedade impede milhares de agricultores de acessarem crédito rural e programas como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o PNAE (Alimentação Escolar).
"Sem documento, não tem crédito. Sem crédito, não tem produção. O recurso existe, mas não chega a quem precisa", reforçou Cláudia.
Segundo Gervano, o INCRA em Rondônia já teve 700 servidores. Hoje restam cerca de 70, e muitos próximos da aposentadoria. O MDA firmou parcerias com o IFRO e o governo estadual (via CEPAT) para acelerar os processos de regularização, mas a estrutura segue insuficiente.
Outro ponto de preocupação é o êxodo rural e o envelhecimento da população no campo. Segundo Lazinho, "o jovem não vê perspectiva". Faltam políticas de sucessão rural, acesso à tecnologia, educação e condições básicas.
"Hoje, quem vive no campo com 10 hectares e boa produtividade é milionário. Mas o jovem não sabe disso. E o pai também não mostra", afirmou Lazinho.
A conversa também abordou a seca extrema de 2024, que impactou a produção e exigiu distribuição de 20 mil cestas básicas pelo governo federal. A previsão para 2025 é de uma seca ainda mais severa.
"Sem água, não há cacau, não há leite, não há café. Precisamos proteger as nascentes e as matas ciliares", alertou Gervano.
Queimadas criminosas também foram tratadas como crime ambiental e não podem ser atribuídas indiscriminadamente a produtores.
"Quem bota fogo em reserva é bandido, não é agricultor. E tem que pagar por isso", disse Lazinho.
Criada em 2012, durante o governo de Confúcio Moura, com o então secretário Anselmo de Jesus (pai de Cláudia), a Rondônia Rural Show surgiu com foco na agricultura familiar. Mas perdeu esse foco.
"É uma feira enorme, importante, mas hoje o pequeno produtor ainda não encontra ali tecnologia nem crédito que caiba no seu bolso", apontou Cláudia.
Lazinho reforçou:
"A vitrine é do agronegócio. Quem sustenta a feira é a agricultura familiar — mas como plateia."
O episódio termina com uma certeza: é preciso investir com responsabilidade em quem produz alimento, protege o meio ambiente e mantém Rondônia em pé.
"Se a cidade continuar crescendo e o campo continuar envelhecendo, vamos ter mais miséria, mais fome e menos futuro", concluiu Gervano.
"Nós precisamos de uma política de Estado que olhe para o pequeno agricultor como prioridade, e não como problema", finalizou Cláudia.
Sábado, às 19h30 - RedeTV
Terça-feira, às 20h - TV Cultura
YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=yX7lcelBknQ
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