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Abandono da BR-319 é crime de lesa pátria

Confira o editorial


A seca do rio Madeira evidencia mais um problema que temos na Amazônia com a falta de interligação por terra entre os Estados de Rondônia e Amazonas, e deste com os demais Estados brasileiros. É a dificuldade que temos para escoar a produção agrícola do Norte e Oeste do país, para exportação, e também para o transporte dos hortifrutigranjeiros, carne bovina e pescado produzidos em Rondônia, que poderiam abastecer as feiras e supermercados de Manaus. 

Isso porque as obras de manutenção da BR-319 foram praticamente abandonadas e o projeto de recuperação e reasfaltamento do trecho do meio da rodovia, agora, encontra resistências ambientais dentro do governo federal, que assumiu compromisso com a população da região em concluir as obras de pavimentação da rodovia.

No rio Madeira, muitas balsas carregadas de soja estão paradas, aguardando a subida do nível das águas. Algumas balsas até arriscam fazer a viagem com meia carga, e várias balsas já encalharam nos bancos de areia no percurso entre Porto Velho e Manicoré. Uma viagem que poderia ser feita em quatro dias, com o nível normal do rio, agora pode levar até oito dias.

O prejuízo é econômico, social e ambiental. Os alimentos, medicamentos e outros produtos de primeira necessidade demoram mais para chegar às comunidades e também a Manaus. E, quando chegam, o preço é alto, o que faz com que Manaus tenha uma das cestas básicas mais caras do Brasil, aumentando a insegurança alimentar e a fome na região, pois tudo o que consome vem de fora, das regiões Sul e Sudeste do Brasil. Sem contar que o transporte de passageiros também se torna inviável nas atuais condições da rodovia.

Isso é um atentado contra a economia regional e mais uma violência contra o povo que passa fome e/ou paga mais caro pelos alimentos. Isso porque Rondônia poderia fornecer muitos produtos alimentícios para Manaus e comunidades ao longo da BR-319, a um custo muito mais baixo, caso essa rodovia estivesse em boas condições. 

Além de que, fica evidenciado o desrespeito do Estado brasileiro para com todos os amazônidas, tanto com os povos originários como com os migrantes. Todos perdem com o abandono da BR-319 e isso é um verdadeiro crime de lesa pátria.

A BR-319 esteve inteiramente asfaltada por mais de 20 anos e, a grande farsa de que o seu reasfaltamento pode causar a destruição da floresta tem que ser desmascarada e combatida. O próprio Ibama já concedeu o licenciamento ambiental para realização da obra. Agora, grupos que defendem os interesses obscuros sobre a Amazônia estão querendo impedir o seu reasfaltamento. O Estado brasileiro não pode permitir isso. Isso é um atentado contra nossa soberania e contra a cidadania de quem mora na Amazônia.

É mais do que certo e provado que o asfaltamento da BR-319 pode abrir portas para o desenvolvimento socioeconômico sustentável na região. Com uma rodovia de qualidade, o Estado poderia fiscalizar melhor a floresta, além de estimular o turismo ecológico, a produção de alimentos regionais e a exploração responsável dos recursos naturais, gerando empregos e oportunidades para as comunidades locais.

O reasfaltamento da BR-319 melhoraria significativamente o transporte de cargas e passageiros na região, reduzindo os custos logísticos e aumentando a eficiência do comércio entre os estados da Amazônia. Isso beneficiaria não apenas a economia regional, mas também todo o país, garantindo o abastecimento de produtos essenciais em regiões isoladas.

Entretanto, é crucial ressaltar que o reasfaltamento da BR-319 deve ser feito de maneira responsável e sustentável, considerando os impactos ambientais e sociais. O modelo de estrada parque pode ser adotado, com vários pontos de fiscalização e envolvimento das comunidades locais na implementação de medidas de conservação ambiental rigorosas. Com isso, a BR-319 pode ser um modelo para conciliar a proteção do meio ambiente com o progresso socioeconômico, assegurando um futuro mais promissor para a Amazônia e suas comunidades.

Acir Gurgacz é ex-senador por Rondônia e atual presidente da Anatrip - Associação Nacional das Empresas de Transporte Rodoviário de Passageiros.


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