Digna de atenção
"Pra gente que tem memória, muita crença, muito amor". Sob a inspiração da "Saga da Amazônia", de Vital Farias, a Academia Brasileira de Ciências promoveu sua Reunião Magna em maio comprovando que é uma das entidades mais democráticas do país, a julgar pela crítica feita à própria ABC pela antropóloga Braulina Baniwa, de que os saberes indígenas não são tratados como ciência. A crítica faz sentido, embora se deva ter cuidado com o risco de misturar crenças, mesmo simpáticas e derivadas da natureza, com o rigor que se exige da valoração científica.
Deve-se reconhecer, porém, que apenas por aceitar discutir a crítica feita pela antropóloga a ABC merece ser conhecida e avaliada, como a definição perfeita da realidade regional feita na ABC pela professora Susanna Hecht, da Universidade da Califórnia (EUA). Para ela, a Amazônia é um lugar historicamente difícil de estabelecer governança e por isso mesmo vulnerável à experimentação de novas realidades e atividades econômicas.
É um fato, mas há outro que precisa urgentemente nortear as discussões sobre a forma de lidar com a floresta. Susanna argumenta que a floresta é um regulador global do clima, assim como os oceanos, os glaciais do Norte ou a Antártica, só que, ao contrário dos outros, é habitada por quase 40 milhões de pessoas. Pode-se ignorar os peixes dos oceanos e os pinguins da Patagônia na costura de políticas, mas não milhões de pessoas.
Bolha imobiliária
Duas cidades onde foram construídas hidrelétricas nos últimos anos entraram em bolhas imobiliárias (grandes desvalorizações de imóveis), entre as 15 citadas em recente levantamento nacional. Trata-se de Porto Velho, que teve grande crescimento com as usinas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia e Altamira (Pará), onde foi erguida a hidrelétrica de Belo Monte. O panorama é o mesmo: o advento das barragens gerou grande investimento na construção civil, alta no preço dos imóveis e dos aluguéis e com o fim do ciclo das usinas, o êxodo, graves problemas de segurança pública e infraestrutura.
Pior situação
Porto Velho, mesmo em bolha imobiliária, pode até festejar sua desgraceira, pois os efeitos em Altamira foram piores ainda que na capital rondoniense. Aquela cidade se tornou campeã nacional de criminalidade. Em Macaé, no Rio de Janeiro, a capital nacional do petróleo, outra situação terrível, com prédios inteiros abandonados e desvalorização de até 40 por cento dos imóveis depois que a Petrobrás largou mão de importantes projetos petroquímicos. Uma situação que também atingiu cidades que tinham florescido com o agronegócio, como ocorreu no Mato Grosso do Sul.
Virando a casaca
Na política, virar a casaca - passar para o lado dos adversários - tem sido algo cotidiano na política rondoniense. Lembro que ainda na década de 80 políticos como Claudionor Roriz (Ji-Paraná), Paulo Marzola (Vilhena), que eram do MDB viraram a casaca para o PDS, liderado no estado pelo então governador Teixeirão. Roriz inclusive se elegeu senador nas eleições de 1982. Atualmente temos na Câmara de Vereadores alguns vira-casacas de dar inveja aos veteranos, um dos casos é do vereador Breno Mendes, chegado do ex-prefeito Hildon Chaves que se tornou líder do atual prefeito Leo Moraes (Podemos). Como ele, mais meia dúzia de vereadores estão pulando cirandinha com o nosso comandante do Prédio do Relógio.
Reduziu o ritmo
O ex-governador Ivo Cassol (PP), acabou reduzindo o ritmo de contatos políticos visando a disputa do governo estadual no ano que vem em vista da indefinição da sua situação perante a justiça eleitoral. Ele começou o ano animado e já tinha conversado com vários pretendentes ao Palácio Rio Madeira, casos do ex-prefeito Hildon Chaves (PSDB -Porto Velho) e do atual prefeito de Cacoal Adailton Fúria (PSD). Já estava até garimpando um vice para compor a sua chapa e selecionando nomes para disputar as duas cadeiras ao Senado na sua composição. Nos bastidores se sabe que ainda tem esperanças de se livrar das amarras da justiça eleitoral para entrar firme na peleja,
É coisa de louco!
Neste confronto entre os grupos políticos liderados de um lado pelo chefe da Casa Civil Elias Rezende e o deputado estadual Ribeiro do Sinpol, contra os militantes do ex-chefe da Casa Civil Junior Gonçalves, se vê que existe um verdadeiro cipoal de rabos amarrados e que mesmo assim a batalha pelo poder não arrefece. A cada denuncia existente, quem é prejudicado é o governo estadual e as cadeiras de Marcos Rocha ao Senado e de Sergio Gonçalves ao governo do estado na eleição 2026. ameaçadas Urge uma conciliação entre a partes beligerantes para que o CPA não naufrague no próximo pleito.
Visão de futuro
É possível que ainda nas eleições de 2026 a população rondoniense, voltada ao agronegócio e muita gente influenciada pelos políticos rapinadores, apoiando invasões nos parques nacionais e reservas florestais, ainda não reconheça as ações do ex-governador e atual senador Confúcio Moura na criação das reservas ambientais em Rondônia tão criticadas pelos deputados estaduais. Mas no futuro com certeza os rondonienses vão entender suas razões, já que boa parte das invasões nas reservas foi praticada por grileiros que aproveitaram, com apoio de políticos a ocupação dos parques nacionais gerando grande aumento das queimadas no estado durante verão.
Mudanças climáticas
Temos invasões de garimpeiros nas reservas ambientais contaminando com mercúrio nossos mananciais de igarapés, dos madeireiros devastando florestas públicas extraindo madeira ilegal nas reservas indígenas etc. Com as mudanças climáticas, batendo as nossas portas é possível entender a visão de futuro do senador. Estamos vivenciando ano a ano alternâncias de grandes enchentes e baitas estiagens, faltando água potável para beber até em Porto Velho, que fica encravado as margens de um dos maiores rios do mundo, que é o nosso amado Madeirão, tão assoreado nas últimas cheias.
Via Direta
*** A pavimentação da rodovia 319 ficou fora do Plano Nacional de Logística 2025 gerando uma baita chiadeira nos parlamentares do pacto amazônico *** Como se sabe, existe um trecho critico de 400 quilômetros, denominado de "meião" que necessita ser pavimentado, já que durante o inverno amazônico, nosso período de chuvas aquele trecho se transforma num monumental atoleiro *** O suplente de deputado federal Rafael Fera (Ariquemes) aguarda com impaciência a posse no lugar do deputado federal Lebrão (São Miguel) na Câmara dos Deputados *** Com o CPA rachado ao meio, se esperam posicionamentos decisivos do governador Marcos Rocha depois de uma semana de confusão nestas bandas.
Carlos Sperança