Os ataques a ônibus em Porto Velho, que deixou a cidade em estado de choque, expõe uma realidade perturbadora: a ocupação de conjuntos habitacionais populares por facções criminosas. Diante de tantos episódios de violência, é inevitável questionar como a inteligência da polícia não conseguiu detectar essa infiltração antes que a situação chegasse a um ponto tão crítico. Afinal, a tomada de territórios por organizações criminosas não é um fenômeno novo. Em outras cidades brasileiras, esse padrão já se repetiu inúmeras vezes, com resultados devastadores. Por que, então, nada foi feito para evitar que o mesmo ocorresse em Porto Velho?
A pergunta que fica é: houve falha na prevenção ou na ação? A resposta, provavelmente, envolve ambos os aspectos. A falta de antecipação diante de um cenário previsível é, no mínimo, preocupante. Conjuntos habitacionais, especialmente aqueles localizados em áreas periféricas, são historicamente vulneráveis à ação de facções. A ausência de políticas públicas eficazes para garantir segurança e inclusão social nesses locais cria um terreno fértil para o crime organizado. No caso do residencial Orgulho do Madeira, por exemplo, a presença de cerca de 15 mil pessoas em uma área dominada por facções não é algo que aconteceu da noite para o dia. Foi um processo gradual, que deveria ter sido monitorado e combatido desde o início.
Outro ponto que merece reflexão é a capacidade de resposta das forças de segurança. Apesar das operações policiais recentes, que resultaram na morte de um líder do Comando Vermelho e na prisão de outros suspeitos, os ataques a ônibus mostram que as facções ainda têm poder de fogo e organização para retaliar. A chegada da Força Nacional é um passo importante, mas não resolve o problema de fundo. A segurança pública não pode se resumir a ações reativas. É preciso investir em inteligência, em estratégias de prevenção e, principalmente, em políticas sociais que tirem os jovens do caminho do crime.
A situação em Porto Velho também levanta questões sobre a responsabilidade do poder público. Enquanto os moradores sofrem com a falta de transporte e o medo constante, as autoridades parecem correr atrás do prejuízo, sem um plano claro para reverter o cenário. A suspensão do transporte coletivo, que afeta diretamente mais de 50 mil pessoas, é um exemplo do quanto a população é refém dessa guerra não declarada.
É hora de repensar a abordagem da segurança pública em Rondônia. A prevenção deve ser prioridade, e isso inclui não apenas ações policiais, mas também investimentos em educação, emprego e infraestrutura. A inteligência da polícia precisa ser pró ativa e fortalecida com recursos e estratégias modernas para identificar e neutralizar ameaças antes que elas se tornem crises. Enquanto isso não acontecer, episódios como os ataques a ônibus continuarão a se repetir, e a população continuará pagando o preço mais alto.
Diário da Amazônia