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Semear livros é cultivar esperança na infância que precisa de atenção

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A leitura é um dos pilares mais sólidos para a formação de cidadãos críticos, sensíveis e preparados para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. Nesse contexto, iniciativas como o projeto "Lê Pra Mim?", que completa 15 anos de existência, merecem destaque e, mais do que isso, uma análise ponderada sobre seu impacto, limitações e potencial transformador. Desde 2010, o "Lê Pra Mim?" percorre o Brasil levando literatura para crianças de escolas públicas.

Ao longo de 44 edições em 24 cidades, a proposta vai além da simples leitura: cria encontros entre crianças e personalidades de diferentes áreas, nacionais e locais, que não apenas leem, mas também compartilham suas experiências de vida. Em Porto Velho, entre os dias 26 e 30 de maio, essa experiência será renovada, reunindo nomes conhecidos do grande público e representantes da cultura local para dialogar com estudantes de 4 a 10 anos.

A essência do projeto está no estímulo à imaginação e no incentivo ao hábito da leitura, especialmente em ambientes onde o acesso ao livro ainda é restrito. O gesto de entregar um livro ao fim de cada encontro representa não só uma lembrança física, mas uma semente plantada para o futuro. Afinal, o livro pode ser o primeiro de muitos ou, por vezes, o único a que aquela criança terá acesso por um bom tempo.

É preciso, no entanto, evitar visões românticas ou simplistas. Projetos como esse têm um valor inegável, mas não substituem políticas públicas estruturantes de acesso à educação e à leitura. Eles funcionam como pontes, ampliando horizontes e mostrando possibilidades, mas dependem da continuidade do trabalho em sala de aula, da presença de bibliotecas ativas e de políticas de valorização do livro e do professor. Sem esse alicerce, o impacto dessas ações tende a ser mais simbólico do que efetivamente transformador.

Por outro lado, a presença de figuras conhecidas, tanto locais quanto nacionais, tem o potencial de criar memórias duradouras e fortalecer a autoestima das crianças, que se veem reconhecidas em suas realidades. Ao equilibrar a participação de convidados de fora com personalidades de Porto Velho, o projeto valoriza a cultura local e oferece múltiplas referências para o público infantil.
Em tempos de tantas urgências sociais, iniciativas que promovam a leitura e a cultura devem ser celebradas, mas também analisadas com senso crítico. Elas são importantes, desde que não se tornem ilhas isoladas de esperança, mas sim parte de um esforço coletivo pela educação e cidadania.

Que o exemplo do projeto "Lê Pra Mim?" inspire novas parcerias entre escolas, comunidade e poder público, ampliando o alcance de ações culturais e literárias. Investir em leitura é apostar em uma sociedade mais justa, criativa e preparada para os desafios do futuro.

Diário da Amazônia

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