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2025 pode lembrar 2005, mas desta vez Lula sangra de verdade

E não conta mais com a ajuda direta de Bolsonaro para se eleger


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Foto: Reprodução

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Creio que estamos de acordo: o Lula 3 não é o governo do ajuste das contas públicas, preocupado com o controle da inflação e os juros altos. Também não é o governo das reformas estruturantes, até porque, minoritário no Congresso, enfrenta ali sérias dificuldades para aprovar o que quer que seja.

Não é um governo de novas ideias, sintonizado com os tempos que vivemos ou para muito além dele. Tanto não é que até aqui limitou-se a ressuscitar ou anabolizar antigos programas do Lula 1 e Lula 2, largados por administrações anteriores, mas ainda necessários. E a lançar alguns inéditos, ainda em fase de testes.

Se estamos cansados de saber o que ele não é, é porque lhe falta uma identidade, mas não só. Ou porque não funcionou até a sua metade a identidade com a qual se apresentou e pediu passagem. Seria o governo da união e da reconstrução, assim se disse no início. Cadê a união? O que conseguiu reconstruir que não vemos?

Palavras ao vento. Ou mal escolhidas e mal vendidas. Ou o imobilismo. Sem uma marca forte, nenhum governo é reconhecido. Pode sobreviver em respeito ao calendário eleitoral, mas seu condutor só será reeleito à falta de melhor alternativa. Não é sobre comunicação apenas, mas sobre competência.

Em 2022, não foi Lula que venceu a eleição, foi Bolsonaro que a perdeu. Na maioria das vezes, aqui e em qualquer parte, não é a oposição que vence, mas o governo que perde. Fernando Henrique Cardoso (PSDB) derrotou Lula duas vezes sem precisar de segundo turno, mas não fez de José Serra (PSDB) seu sucessor.

Lula se elegeu porque o país estava mal no fim da era Fernando Henrique. Dilma Rousseff (PT) só se elegeu e se reelegeu presidente porque Lula saiu aclamado do Palácio do Planalto depois de ter feito dois bons governos. O Lula 3 só não aconteceu antes porque Dilma não se conformou com um único mandato.

Se tivesse sido bem-sucedido no seu primeiro governo, Donald Trump teria sido reeleito presidente dos Estados Unidos com ou sem a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2020. Joe Biden, que o sucedeu, fracassou em seguida e Trump voltou na condição de o primeiro ex-presidente americano criminalmente condenado.

Não importa que a economia estivesse em crescimento e a inflação em baixa ao cabo do governo Biden - a percepção dos americanos é que ela não estava. E Trump prometia uma "América, primeiro". O que vale, estúpido, é a percepção das coisas, e não os números frios dos indicadores da realidade; esses são manipuláveis.

Agarra-se o PT à tese de que 2025 poderá repetir 2005. Há 20 anos, no auge do escândalo do mensalão, aliados de Lula davam como findas suas chances de se reeleger. Os adversários, para não serem apontados no futuro como algozes do primeiro presidente operário, preferiram não sacar o impeachment da cartola.

A recomendação mais ouvida foi: "Vamos deixá-lo sangrar sozinho que o poder nos será devolvido de graça." Não foi devolvido. Eleitor é um bicho pragmático. O país ia bem, sentia-se no bolso, e não fora Lula o responsável pelo escândalo. Então, por que culpá-lo? O certo seria renovar seu mandato. E assim fizeram.

Ocorre que o país de há 20 anos não é o mesmo de hoje, tampouco o mundo e as pessoas. A internet no Brasil, por exemplo, só foi disponibilizada para o público entre 1994. O advento das redes sociais só se deu em 2004. Em 2016, 50% dos domicílios estavam conectados à internet. Hoje, Lula de fato sangra a céu aberto.

A história só se repete como farsa, Lula sabe. Faltam 318 dias para terminar o ano que Lula considera o último, o que irá definir a sorte do seu terceiro mandato. Não terá mais Bolsonaro para ajudá-lo a se eleger. Contará com ele para atrapalhar a vida dos seus adversários. Isso, porém, por si só, não será o suficiente.

Metrópoles


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