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Técnica desenvolvida pela Unesp detecta metanol em bebidas com rapidez

Criado em 2022 por pesquisadores, o método é prático e barato. No entanto, ainda precisa de investimento para ser comercializado e ofertado


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Larissa Modesto/Unesp/Divulgação

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Cientistas do Instituto de Química (IQ) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara, no interior de São Paulo, desenvolveram, em 2022, um método capaz de identificar a presença de metanol e outras adulterações em bebidas alcoólicas. Mais simples, barato, rápido e eficiente do que os disponíveis atualmente, foi inclusive submetido a pedido de patente pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).

Em meio à alta dos registros de casos de intoxicações pela substância no Brasil, a técnica poderia estar em vigor como forma de prevenção. No entanto, nunca foi comercializada por "falta de procura por parte da indústria ou de empresas interessadas em fabricar", de acordo com a assessoria da universidade.

A tecnologia pode ser executada em destilados, como cachaça, vodca e uísque, e também em amostras de gasolina e etanol. Caso seja produzida em larga escala, a reação deve beneficiar produtores de petróleo, donos de postos de combustíveis, casas de eventos e consumidores em geral.

Segundo os idealizadores, o produto não demanda mão de obra especializada para as análises e dispensa a necessidade de laboratórios altamente equipados. Mestranda do IQ e autora principal da invenção, Larissa Modesto detalha a utilidade.

"O melhor seria se fosse usado por dono de bar, dono de resort, dono de qualquer evento que vai comprar um carregamento grande de bebidas e que, às vezes, não foi ele que adulterou, mas ele é responsável pelo que ele tá vendendo. Ele responsável por garantir a segurança do que ele tá vendendo. Então, é do interesse total do dono do bar fazer esse teste no momento do recebimento da mercadoria dele, assim como o dono do resort, o dono da adega; é uma maneira de garantir a segurança do que ele está vendendo e a segurança dele mesmo", explica a pesquisadora.

Principalmente neste momento alarmante em relação ao metanol, a especialista em química evidencia o benefício prático da pesquisa. "Não é um problema só no Brasil, é um problema global, e eu me sinto esperançosa de que talvez, finalmente, se alguma empresa quiser comprar os direitos de comercialização da reação e aplicar no mercado, eu vou ver meu trabalho sendo aplicado para resolver uma questão de saúde pública", avalia Modesto.

Como funciona o método

O processo para determinar a concentração de metanol em amostras é feito em apenas duas etapas, que duram no total cerca de 15 minutos para detectar em bebidas alcoólicas. Na primeira fase, adiciona-se um tipo de sal junto ao combustível ou à bebida que passará pela avaliação, o que transforma o veneno, caso esteja presente, em formol.

Em seguida, basta adicionar à mistura um ácido capaz de gerar mudanças na coloração da solução. Por meio da cor que se manifesta ao fim dos procedimentos, é possível identificar a olho nu se determinada amostra possui mais metanol que o permitido.

Se a tonalidade percebida for verde, não há quantidades significativas de metanol na amostra. Em caso de tom verde amarronzado, a presença da substância é de 0,1% a 0,4%. Se o pigmento da mistura ficar marrom, o composto químico se concentra em 0,5% a 0,9%; roxo, 1% a 20%; e azul-marinho significa 50% a 100% de metanol.


Intoxicação por metanol

Segundo regulamentação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o limite permitido de metanol em destilados, em geral, é de 20 miligramas a cada 100 mililitros. Isso equivale, aproximadamente, a algumas gotas.

Se consumido em grande quantidade, o composto químico pode causar cegueira e até ser letal.

Até essa quinta-feira (2/10), foram registradas 59 notificações de casos suspeitos de intoxicação por metanol. Do total, 11 foram confirmados.

Há seis óbitos associados ao metanol em São Paulo até o momento: um confirmado e cinco em investigação.

O estado concentra o maior número de casos suspeitos.

No país, outras sete mortes seguem em investigação, conforme informou o Ministério da Saúde.

Nos últimos dias, a Unesp começou a receber contatos de alguns bares e restaurantes que demonstraram interesse em adquirir o produto que detecta metanol em bebidas. Contudo, para ser ofertado, o método precisa ser fabricado em larga escala.

Conforme informado pela universidade, empresas interessadas na tecnologia podem entrar em contato com a Agência Unesp de Inovação (AUIN) por meio do seguintes e-mails: [email protected] e [email protected].


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