rafegar pela rodovia passou a ser uma aventura com muitos perigos para se chegar ao destino final
Arquivo/Diário da Amazônia
Inaugurada em 27 de março de 1976, a BR-319, oficialmente Rodovia Álvaro Maia, conhecida como Rodovia Manaus-Porto Velho, foi construída para fazer a integração do Norte com o Centro-Sul do país. Já são quase cinco décadas de existência e a via não cumpre seu principal objetivo de existência que é agilizar a integração regional. São 885 quilômetros entre Manaus (AM) e Porto Velho (RO), cortando a imensidão da floresta Amazônica e grande parte do trecho se tornou um carreador isolado.
Transitar nessa estrada é uma ardosa aventura que envolve riscos e perigos. Sem asfalto e com a manutenção sempre precária, o que seria a principal via de integração da Amazônia se tornou em um corredor de sofrimentos que isola moradores de municípios, distritos e localidades que vivem na dependência do transporte fluvial - um modal demorado e desfavorável para o transporte de passageiros e de cargas perecíveis.
A bordo de um ônibus da empresa Eucatur que é pioneira no transporte nessa linha, Sebastião Oliveira da Silva desabafou dizendo que existem interesses econômicos para que a estrada continue precária, favorecendo o transporte fluvial. Ele entende que deixar a região isolada por conta de apenas um meio de transporte impede o desenvolvimento e causa transtornos para os moradores.
Constantemente ele precisa se deslocar entre Manaus e Porto Velho e a viagem vira uma saga. "É muito cansativo e exaustivo, apesar que a distância não é longa. Falam também que a estrada pode causar impacto ambiental, mas esquecem que já foi asfaltada e o impacto era muito menor do que o sofrimento que vivemos hoje em dia", questionou Sebastião.
A senhora Ana Lúcia Torres de Castro compartilhou o mesmo pensamento sobre a justificativa ambiental.
"No passado a estrada era asfaltada e nem por isso causou dano ambiental. Basta ver a quantidade de floresta que tem e naquele tempo todos viviam e transitavam com rapidez e segurança", justificou.
Outro viajante indignado era o senhor Diquinho Marinho Pereira, que mora em Santarém (PA) e tem família em Porto Velho (RO). Com o preço alto de passagem aérea, o jeito foi embarcar num ônibus e enfrentar as dificuldades da viagem para chegar ao destino. Ele também reclamou da falta de prioridade de governo para a realização do asfaltamento da BR-319. "Não tem cabimento a única rodovia da região estar nesta situação. A gente faz uma viagem dessa porque não tem outro recurso. Passagens aéreas são caras e de barco demora muito. Com o asfalto facilitaria a vida de toda essa gente", desabafou.
Estrada ruim prejudica o comércio e agricultura
A BR-319 seria um corredor de negócios, caso fosse reasfaltada. O transporte de mercadorias perecíveis ganharia volume pela agilidade, evitando perdas e prejuízos. O turismo e outras formas de serviços também seriam impulsionados com a locomoção rápida e sem transtornos. São diversos moradores basicamente isolados em cidades, distritos e localidades ao longo do percurso. Tem ainda as capitais dos estados que poderiam ter a economia fortalecida com o acesso terrestre em condições seguras.
Entre os prejudicados está dona Márcia Cristina que tem comércio no distrito de Realidade, no município de Humaitá (AM). Esse local é conhecido como o Trecho do Meio onde durante o Inverno forma um grande atoleiro. Na época de Verão os transtornos são causados pela poeira que atrapalha a visibilidade dos motoristas e causa problemas de saúde para os moradores.
Para dona Márcia Cristina é difícil definir qual é a pior época, mas prefere o tempo seco. "Entre a poeira e o barro, a gente prefere a poeira porque traz a prosperidade. Quando a estrada fica intrafegável é ruim não só pra mim que sou comerciante, mas também para os produtores rurais que não conseguem escoar a produção e tomam muitos prejuízos. Seria uma bênção se pudessem levar seus produtos para vender em Manaus", acentuou a comerciante.
Motoristas redobram atenção na poeira e na lama
A estrada estreita torna a condução ainda mais perigosa porque a poeira tira a visibilidade dos condutores. Como existem muitos buracos, pontes quebradas e bueiros rompidos, a atenção precisa ser redobrada para evitar sinistros. No Inverno os riscos são ainda maiores e os constantes acidentes colocam vidas em riscos e causam prejuízos com danos e avarias nos veículos.
O motorista de ônibus Márcio Roberto Gama de Almeida é um experiente condutor que conhece bem a BR-319. Ele declarou que conduzir um veículo com pessoas é uma tarefa de muita responsabilidade pelos elevados fatores de riscos.
"Nós transportamos vidas e as condições da estrada não oferecem a segurança necessária. A rodovia com tantos obstáculos faz com que o nosso trabalho seja ainda mais desgastante", afirmou.
Durante o inverno surgem os atoleiros que dificultam a passagem de veículos que, quando atolam, dependem de reboque de tratores ou da força humana para desatolar. Motoristas se lançam na lama para desencalhar as rodas e o empurrão solidário é o que faz atravessar os pontos críticos.
Com bueiros obstruídos, em muitos pontos a água cruza a pista, em outros lugares as velhas pontes de madeira são arrastadas, e as travessias de balsas atrasam ainda mais as viagens. É comum encontrar automóveis e caminhões parados à noite nos chamados pontos de apoios, que são pequenos comércios à beira do caminho. Os pernoites são necessários para evitar que sinistros possam deixar pessoas isoladas diante dos perigos da selva.
Soluções estão longe com previsões demoradas
Através de E-mail, a assessoria do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), informou que "a respeito do andamento dos projetos de pavimentação (asfaltamento) da BR-319, existe dois contratos. O de número 303/2020 para a Elaboração de Estudos e Projetos Básicos e Executivos de Engenharia para Pavimentação e Melhoramentos, incluindo as Obras de Artes Especiais, do "Trecho do Meio". A previsão para o término da execução do Contrato é o segundo semestre de 2024.
Já o Contrato nº 376/2020, para a Elaboração de Estudos e Projetos Básicos e Executivos de Engenharia para Pavimentação e Melhoramentos, incluindo Obras de Artes Especiais, do "Trecho do Meio", a previsão para o término da execução do Contrato é o segundo semestre de 2025.
Sobre a viabilidade ambiental do projeto de pavimentação e melhorias da BR-319/AM, segmento do km 250,7 ao km 656,4, (Contratos 303/2020 e 376/2020) denominado "Trecho do Meio", considerando o Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) elaborado pelo DNIT, o órgão informou que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) emitiu a Licença Prévia (LP) nº 672/2022, em 30 de julho de 2022, atestando a viabilidade ambiental do empreendimento.
Apesar de ser um sinal de esperança, as previsões que podem ser definitivas ainda dependem da morosidade da coisa pública. Enquanto isso, transitar nessa rodovia é um rumo sem Norte, onde todos sabem a hora da partida, sem previsão de chegada.
No momento vem sendo feitas as recuperações emergenciais nos pontos de atoleiros, com aplicação de britas e cascalho para garantir a passagem de veículos.
Solano Ferreira