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Belos discursos
No Brasil, em que narrativas tortas são forjadas sem nenhum pudor para livrar a cara de notórios malandros, até dizer o óbvio soa como genial ou novidade. A líder indígena Alessandra Korap Munduruku, ganhadora do Prêmio Goldman de 2023, tido como o "Nobel do ambientalismo", disse que os governos federal e estadual fazem discursos bonitos para o público externo, mas no interior, onde ocorrem as queimadas e o envenenamento de ar, terra e águas, a população sofre apesar de haver satélites dotados de moderna tecnologia para identificar as origens desses crimes.
Um advogado do diabo pode argumentar que Alessandra também tem uma "narrativa". A rigor, tudo que se diz é narrativa, e sua veracidade pode ser checada facilmente, a menos que seja escorada por uma crença cega. A diferença entre as narrativas é dada pela checagem: se o seguidor de um político acha que seu líder é contra a corrupção, antes de defendê-lo deveria examinar a vida pregressa do ídolo para comprovar se tem de fato ficha limpa.
No caso da narrativa de Alessandra é difícil contrariar seus argumentos, até porque estão ao alcance de narizes e bocas que sorvem fumaça. Os hospitais estão cheios de pessoas que deveriam estar no trabalho, mas por descuido ou incapacidade dos gestores sempre com belos discursos pendurados nos lábios sofrem desde diarreias causadas por águas doentes até quadros pulmonares preocupantes vindos do ar empesteado.
Decisão acertada
Numa decisão muito acertada, o prefeito de Porto Velho Hildon Chaves desistiu da inauguração do terminal rodoviário da capital, sua obra mais vistosa, passando a primazia da cerimônia inaugural para o prefeito eleito Leo Moraes que toma posse em janeiro. Hildão jogou a toalha depois dos vetos técnicos do CREA, do Tribunal de Contas e da sua própria equipe de engenheiros que era contrária a inauguração da obra inacabada. Cabe ao prefeito eleito Leo Moraes, deixar as rivalidades tribais de lado e convidar Hildão para uma inauguração conjunta. Seria um belo início de gestão buscando a união política e o desmonte de uma polarização local sem sentido.
A polarização
Não bastasse a polarização nacional travada entre bolsonaristas e lulapetistas, Porto Velho resolveu ter uma própria polarização, envolvendo fervorosos hildistas e fanáticos Leozistas. Sendo assim, os hildistas louvam tudo ligado a gestão Hildon Chaves e descem a lenha no seu sucessor Leo Moraes. Por sua vez, os leozistas não cansam de avacalhar a gestão que ora está sendo concluída do prefeito Hildão. Temos nuances despropositadas, só para exemplificar este fenômeno local: os fervorosos hildistas dizem e responsabilizam Leo Moraes pelo brutal aumento dos vencimentos do novo prefeito. "Viu só? Só foi ele (Leo) aparecer que já aumentou seu próprio salário", afirmam. No tempo do Hildão não era assim, proclamam. Mas era, sim senhor!
Bomba relógio
Por parte dos leozistas (falo do quinhão dos fanáticos polarizadores) afirmam que o atual prefeito Hildon Chaves (PSDB) está deixando uma bomba relógio para o sucessor e não conseguem enxergar que o alcaide atual foi o grande campeão de pavimentação, o máximo em iluminação pública, brilhou na regularização fundiária e, que está realmente deixando um legado histórico para o sucessor. Preferem os mantras que Porto Velho detém recordes negativos de água e esgoto, violência, saúde caótica e das infernais alagações que atrapalharam a candidata chapa banca Mariana no recente confronto eleitoral de outubro.
Grande revanche
A horda selvagem dos hildistas quer vingança, querem revanche com Leo Moraes, assim como os bolsonaristas querem a pele de Lula para fazer tamborim. Não demora: Hildon Chaves tem como candidata ao Senado Mariana Carvalho, Leo Moraes, o deputado federal Fenando Máximo. E se Hildão não ganhar o CPA na eleição de 2026 (eu acredito que desta vez é o interior que leva o governador) ele virá quente e fervendo para cima de Leo Moraes em 2028, que em duas eleições foi derrotado pelo tucano. Primeiro em confronto direto, depois numa segunda oportunidade quando Leo apoiou Cristiane Lopes, também derrotada.
Não interessa
Essa polarização local doentia não interessa a Porto Velho. Leo Moraes vai começar uma administração com orçamento minguado e não pode se ater a rivalidades tribais oriundas das eleições municipais. Vai precisar unir as forças políticas para a obtenção de recursos de emendas parlamentares. Precisa atacar de rijo os problemas que levantou durante a campanha eleitoral, alguns de difíceis solução como são o caso das alagações nas regiões mais baixas da cidade. Da parte de Hildon, que deixe de lado os problemas pessoais herdados da campanha, numa derrota que ele foi o principal responsável e que projete melhor seu futuro político, que espero ser radioso. Da minha parte, penso em Leo num grande prefeito, e Hildon, mais cedo ou mais tarde, um baita governador!
Ainda, a BR 369
Numa reunião com as esferas federais para tratar da governança da futura BR 319 que conecta Porto Velho a Manaus, numa extensão de quase 900 quilômetros, o governador do Amazonas Wilson Lima e lideranças da sua bancada federal estiveram em Brasília durante a semana para tratarem dos trâmites legais para o pontapé inicial da grande restauração completa da estrada que tem no seu chamado "meião" - em torno de 460 quilômetros em situação de penúria. Como sempre, não se avançou o quanto era esperado e foi marcada uma nova reunião em meados do ano que vem para novas tratativas. A recuperação da estrada virou uma novela. Nem Bolsonaro e nem Lula deram jeito.
Via Direta
*** A covid 19 volta a preocupar na região. Em Rio Branco, no Acre a doença cresceu exponencialmente nos últimos dias. Que Porto Velho fique com as barbas de molho desde já *** A Polícia Federal segue estourando os garimpos ilegais na região de Porto Velho e Sul do Amazonas. Muitas famílias reclamando que ficaram sem ocupação com as dragas implodidas e não sabem como vão passar o Natal e Ano Novo *** Arrumar ocupação para tanta gente expulsa dos garimpos na região é um desafio das autoridades municipais, estaduais e federais *** Trocando de saco para mala: Hildão ganhou muito politicamente ao dar razão ao bom senso e suspender a inauguração da nova rodoviária. Bom senso e coerência
Carlos Sperança