Foto: José Carlos
O primeiro Feirão de Empregos de Porto Velho representa mais que um evento pontual de intermediação trabalhista. Configura-se como reflexo de uma necessidade estrutural do mercado de trabalho local e, simultaneamente, evidencia tanto potencialidades quanto limitações das políticas públicas municipais de emprego.
A dimensão do evento impressiona pelos números: mais de dez mil inscritos, 150 empresas participantes e mil vagas disponibilizadas. Esses dados revelam, paradoxalmente, tanto o dinamismo empresarial da capital rondoniense quanto a pressão exercida pelo desemprego sobre a população local. A expressiva adesão popular demonstra carência crônica de oportunidades profissionais estruturadas.
Merece destaque a inclusão de grupos historicamente marginalizados no mercado formal: pessoas com deficiência, trabalhadores acima dos 50 anos, jovens em busca do primeiro emprego e mulheres. Essa abordagem inclusiva transcende o assistencialismo, configurando-se como política pública responsável que reconhece a diversidade da força de trabalho e suas especificidades.
A participação da Câmara Municipal do Empreendedorismo Feminino adiciona camada relevante ao evento, sinalizando articulação entre poder público e sociedade civil organizada. O empreendedorismo feminino, além de gerar renda, promove transformações sociais significativas, especialmente quando mulheres empregam outras mulheres, criando redes de apoio e empoderamento econômico.
Contudo, eventos desta natureza, embora meritórios, não substituem políticas estruturais de desenvolvimento econômico. Porto Velho necessita de estratégias consistentes de atração de investimentos, qualificação profissional continuada e diversificação da matriz econômica local. O feirão funciona como termômetro das demandas imediatas, mas não resolve questões estruturais do mercado de trabalho regional.
A organização logística eficiente, com filas organizadas e atendimento ágil, demonstra capacidade administrativa municipal para eventos de grande porte. Essa competência organizacional deve ser capitalizada em ações regulares de intermediação trabalhista, não apenas em eventos esporádicos.
A participação empresarial expressiva sugere confiança do setor privado na administração municipal e otimismo quanto ao ambiente de negócios local. Empresas nacionais estabelecendo operações permanentes em Porto Velho indicam potencial econômico regional que merece ser explorado sistematicamente.
Questionamentos pertinentes emergem sobre a sustentabilidade dessa iniciativa. A periodicidade dos eventos, acompanhamento das contratações efetivadas e avaliação da adequação das vagas às qualificações disponíveis constituem elementos fundamentais para mensurar o impacto real dessa política.
Diário da Amazônia