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Os números revelados pelo estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) sobre Rondônia não deixam dúvidas quanto à gravidade da situação. O estado concentra a maior taxa de violência sexual contra crianças e adolescentes entre os nove que compõem a Amazônia Legal. Em 2023, foram 234,2 casos por 100 mil menores, um índice 65,8% acima da média regional e muito superior ao de outros estados com cenários críticos.
Mais de 2.700 registros de estupro e estupro de vulnerável em três anos indicam não apenas a alta incidência de casos, mas também um padrão recorrente: a maioria das vítimas são meninas negras, com idades entre cinco e nove anos, vitimizadas no próprio lar por familiares. Essa dinâmica expõe a necessidade de fortalecer as redes de proteção e o trabalho integrado entre segurança pública, assistência social e saúde.
A violência letal, embora com taxa próxima à média da Amazônia Legal, soma 117 mortes violentas intencionais no triênio. A maior parte dessas mortes vitima adolescentes de 15 a 19 anos, com predominância de jovens negros e do sexo masculino.
Os casos de maus-tratos, 78 no último ano, mostram que a violência contra crianças em Rondônia não se limita aos crimes sexuais ou letais. Mesmo com taxa inferior à média regional, o impacto sobre as vítimas e suas famílias é profundo e duradouro.
O enfrentamento dessa realidade exige políticas públicas específicas, capazes de lidar com as particularidades geográficas, sociais e econômicas do estado. A presença de áreas de fronteira, a vulnerabilidade social e a desigualdade racial são fatores que contribuem para o cenário identificado.
A criação de programas de prevenção nas escolas, a capacitação de profissionais de atendimento, o fortalecimento dos mecanismos de denúncia e a ampliação da rede de acolhimento às vítimas são medidas indispensáveis. Ao mesmo tempo, é preciso enfrentar as causas estruturais da violência, como a pobreza, o racismo e a ausência de oportunidades para crianças e jovens.
A liderança de Rondônia nesse índice alarmante não deve ser interpretada como estatística isolada, mas como sinal de urgência para ações concretas e coordenadas. A proteção da infância precisa ser prioridade, e os números mostram que o tempo para agir é agora.
Garantir um futuro seguro para as crianças de Rondônia passa por reconhecer que a violência não é apenas um problema de segurança pública, mas também de saúde, educação e desenvolvimento social. É necessário ampliar o acesso a serviços de proteção, criar estratégias de atendimento especializado e investir em campanhas permanentes de conscientização. A sociedade civil, junto com o poder público, deve assumir o compromisso de romper ciclos de abuso e promover ambientes onde meninos e meninas possam crescer livres do medo e da violência.
Diário da Amazônia