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Vivemos um momento decisivo para Rondônia. Os dados recentes apontam para uma queda histórica nos focos de queimadas, e isso é, sem dúvida, uma notícia positiva. Mas os números por si só não garantem que essa trajetória será sustentável a longo prazo.
A forte redução (em torno de 82% em relação a 2024) deixa claro que a combinação entre políticas públicas — fiscalização ambiental, educação, campanhas — teve efeitos concretos. Trata-se de um esforço coletivo que envolveu organismos estaduais, agências de monitoramento e também a população. Esse tipo de abordagem integrada é justamente o que especialistas em meio ambiente sempre defenderam.
No entanto, há riscos. A manutenção desse patamar exige persistência. Pressões econômicas, como a expansão de áreas agrícolas, o desmatamento ilegal e as queimadas por interesse produtivo, podem voltar a se intensificar se as ações perderem força. Além disso, a dependência de recursos externos ou pontuais pode fragilizar o programa se houver cortes ou mudanças de prioridade política.
Outro ponto a considerar é que a tecnologia — por mais estratégica que seja — não resolve tudo sozinha. O monitoramento por satélite, por exemplo, ajuda a identificar focos, mas é a presença humana no campo e a coordenação institucional que garantem que as autuações e as ações de educação realmente funcionem. É preciso consolidar cadeias de responsabilização: quem desmata, quem queima, quem vende queimadas como "limpeza de propriedade", precisa responder.
Há ainda um efeito simbólico relevante para a população. Quando os índices caem visivelmente, cresce a esperança de que o meio ambiente pode ser preservado sem sacrificar completamente o desenvolvimento local. Isso cria uma oportunidade para construir alianças entre produtores rurais, comunidades tradicionais, governos e organizações civis. Mas esse pacto exige confiança, diálogo e compromisso real de todos os lados.
Cabe ainda lembrar que os ganhos ambientais têm impacto social. A redução da fumaça melhora a qualidade do ar, beneficia a saúde pública e pode até evitar problemas logísticos, como cancelamentos de voos ou prejuízos econômicos associados à poluição. Essas externalidades positivas devem estar no centro do planejamento futuro, para que não se revertam.
É imprescindível que a queda recorde registrada agora não seja vista como um ponto final, mas como um ponto de partida. A consolidação desse novo patamar depende da institucionalização das políticas, da previsibilidade orçamentária e da participação cidadã contínua.
Se Rondônia conseguir manter esse nível, poderá não apenas proteger seu território, mas também servir de modelo para outras regiões da Amazônia. É esse desafio que se abre agora: transformar um momento positivo em uma política de Estado duradoura.
Diário da Amazônia