Porto Velho (RO), 29 de
Junho de 2025 - 15:41:58
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O Boi Caprichoso abriu a noite com o espetáculo "Kizomba: Retomada pela Tradição", um tributo à herança afro-amazônica. A palavra "kizomba", que significa "festa" no dialeto angolano Kimbundu, foi a inspiração para a celebração da ancestralidade negra, das lutas e das tradições espirituais que moldam a identidade do povo da floresta.
O boi azul entrou em cena a bordo de uma embarcação estilizada, acompanhado do levantador de toadas Patrick Araújo, que abriu a apresentação com a toada "Malúù Dúdú", exaltando a origem preta do Caprichoso. Na sequência, a arena foi tomada por marandoeiros e marandoeiras, personagens que representam a oralidade como forma de preservar os saberes do povo amazônico.
Entre os destaques da noite estiveram a sinhazinha da fazenda Valentina Cid, que se transformou em vitória-régia no centro do Bumbódromo, e a porta-estandarte Marcela Marialva, que trouxe o pavilhão azul e branco com elegância. O amo Caetano Medeiros comandou a evolução da vaqueirada, enquanto o pajé Erick Beltrão protagonizou o clímax ritualístico da apresentação.
O Caprichoso ainda emocionou o público ao recontar a lenda do encantado Sacaca Merandolino, uma criatura que se transforma em serpente sagrada nas águas do rio Arapiuns. A Rainha do Folclore, Cleise Simas, surgiu em uma gigantesca serpente alegórica assinada por Alex Salvador, arrancando gritos da galera azulada.
Ao final, o boi apresentou um forte ato político-cultural com foco nos povos Munduruku e na denúncia contra a hidrelétrica de Teles Pires, que violou territórios sagrados indígenas. "A resposta somos nós", diziam faixas carregadas por indígenas durante a cena.
Garantido celebra o povo e homenageia tradições brasileiras
Encerrando a segunda noite, o Boi Garantido levou à arena o espetáculo "Patrimônios do Brasil", uma homenagem às raízes populares e às manifestações culturais que fazem parte do cotidiano da Amazônia.
O boi vermelho e branco entrou em cena em meio a uma grande festa, com ritmos como samba e maracatu dançados por seus grupos folclóricos. O apresentador Israel Paulain puxou a tradicional contagem encarnada, enquanto o boi surgia em um coração gigante, saudado com entusiasmo pela galera encarnada, a apresentação destacou figuras tradicionais como a porta-estandarte Jeveny Mendonça, com indumentária inspirada no maracatu, e a sinhazinha Valentina Coimbra. O amo João Paulo Farias entrou na arena ao lado de Maria Monteverde, filha de Lindolfo Monteverde, fundador do boi vermelho.
A lenda escolhida foi "A Lendária Epopeia de Tamapú", que narra a jornada de um guerreiro amazônico apaixonado por uma princesa mítica, filha do Urubu-Rei. A personagem foi interpretada por Isabelle Nogueira, cunhã-poranga e ex-BBB, que surgiu em cena como uma mulher-ave, cercada por urubus alegóricos, Outro momento de destaque foi a homenagem às tacacazeiras da Baixa, mulheres que preservam a tradição do tacacá como símbolo de resistência cultural. A cena foi conduzida pela Rainha do Folclore, Lívia Cristina, e valorizou o saber ancestral transmitido por gerações.
O espetáculo do Garantido terminou com o Ritual Ajié, da cosmovisão Madija Kulina. Cânticos, tinturas, rapé e ayahuasca foram utilizados em um ato que celebrou o encontro espiritual dos povos ribeirinhos do Purus, Juruá e Jutaí, conduzido pelo pajé Adriano Paketá.
As apresentações seguem até este domingo (29), quando Caprichoso e Garantido voltam à arena para encerrar a disputa. A apuração que definirá o campeão da 58ª edição do Festival de Parintins será realizada na segunda-feira (30).
Talissia Maressa - Portal SGC
