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O "efeito tarifaço" voltou a ditar o comportamento dos mercados de câmbio e ações no Brasil. Nesta quarta-feira (16/4), o dólar registrou queda de 0,44%, cotado a R$ 5,86. O Ibovespa, o principal índice da Bolsa brasileira (B3), anotou baixa de 0,72%, aos 128.316 pontos.
Os dois movimentos - tanto a queda do dólar como a baixa do Ibovespa - foram condizentes com o cenário global. No mundo, o dia foi de tempestade perfeita. Com isso, o dólar perdeu valor frente boa parte das demais divisas e a maioria das Bolsas cedeu mundo afora.
Nesta quarta-feira, não faltaram fones de turbulência. A Casa Branca informou que as tarifas contra a China chegam a 245%. O número causou surpresa, uma vez que a cota anunciada na semana passada era de 145% (número que resultava da soma da sobretaxa de 125% e de mais 20% referentes à crise do fentanil, opioide que provocou uma crise na área de saúde dos EUA).
Depois do anúncio e da confusão que ele provocou, a Casa Branca informou: "A China enfrenta uma tarifa de até 245% sobre importações para os Estados Unidos como resultado de suas ações retaliatórias. Isso inclui uma tarifa recíproca de 125%, uma tarifa de 20% para abordar a crise do fentanil e tarifas da Seção 301 sobre bens específicos, entre 7,5% e 100%", informou a Casa Branca.
O governo americano também proibiu a Nvidia de vender o chip de IA H20 aos chineses. A empresa disse que sofrerá um baque de US$ 5,5 bilhões no trimestre como resultado da medida. O H20 foi desenvolvido para o mercado chinês. É usado em datacenters de gigantes asiáticas como Tencent, Alibaba e ByteDance.
Powell preocupado
Além disso, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Jerome Powell, afirmou que as tarifas de Trump atingiram um nível maior do que o esperado. Isso mesmo diante da perspectiva "mais extrema".
Powell observou que as mudanças promovidas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, na política comercial devem afastar o BC americano de suas metas. A hipótese vigente é de que haja uma queda no emprego a partir da desaceleração da economia e, simultaneamente, um aumento na inflação. "As declarações de Powell indicaram um Fed mais atento aos riscos inflacionários decorrentes da escalada tarifária", diz Lucas Almeida, especialista em mercado de capitais e sócio da AVG Capital.
Varejo em alta
As vendas no varejo americano, por enquanto, aumentaram 1,4% em março, segundo dados divulgados nesta quarta-feira pelo Departamento de Comércio dos EUA. Para analistas, contudo, elas foram preventivas. Os consumidores estariam antecipando a aquisição de produtos antes da vigência das tarifas, como no caso dos automóveis.
Dólar caiu geral
Nesse cenário - e com análises como a de Powell - as perdas do dólar foram gerais. Às 16h50, ele caía 0,96%, segundo o índice DXY, que compara a moeda americana a uma cesta de seis divisas de países desenvolvidos. "E essa queda de quase 1% em relação aos pares dos EUA é muito alta", diz Emerson Vieira Junior, responsável pela mesa de câmbio da Convexa Investimentos.
Em relação a outras moedas de países emergentes, o dólar também saiu perdendo. Às 16h50, ele registrava baixa de 0,66% em relação ao peso mexicano. Sobre o peso colombiano, a desvalorização era ainda maior: 1,02%, no mesmo horário.
Com o resultado desta quarta-feira, o dólar acumulou queda de 0,12% na semana frente ao real; alta de 2,78% no mês; e recuo de 5,10% no ano.
Ibovespa dividido
As turbulências provocadas pelas tarifas também atingiram os mercados de capitais. A queda do Ibovespa, porém, foi parcial, observa João Vitor Saccardo, da mesa de renda variável da Convexa. Ele pondera que, embora o índice tenha recuado 0,50%, algumas ações subiram. "Os investidores estão apostando em empresas de setores que podem se dar bem com o tarifaço, como do agronegócio", diz o analista.
No Brasil, contudo, também estão sendo retomadas as discussões sobre o problema fiscal (a relação entre gastos e receitas do governo). "No cenário doméstico, a questão fiscal volta ao centro das atenções, com algum ceticismo do mercado em relação ao projeto de lei do Orçamento de 2026 enviado ao Congresso", diz Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad. "A percepção é de que as propostas de aumento de arrecadação podem estar sobrestimadas e sejam insuficientes para cobrir as despesas do governo médio prazo."
Entre as ações que compõem o Ibovespa, 38 fecharam em baixa. Outras 23 permaneceram estáveis e 23 delas registraram alta. Com a queda desta quarta-feira, o Ibovespa registra alta de 1,23% na semana; baixa de 0,78% no mês; e elevação de 7,46% no ano.
Ásia acusa golpe
A maioria das Bolsas da Ásia fechou em queda nesta quarta-feira. O índice Nikkei 225, de Tóquio, caiu 1,01%, e o Kospi, de Seul, baixou 1,21%. Em Hong Kong, o Hang Seng recuou 1,93%. Na contramão do bloco, o Xangai Composto da China continental subiu 0,26%.
Europa mista
Na Europa, como dizem os analistas, as principais Bolsas fecharam "sem direção única". O índice Stoxx 600, que reúne empresas de 17 países, caiu 0,19%. O CAC 40, de Paris, caiu
0,07%, o que significa estabilidade. Já o FTSE 100, da Bolsa de Londres, e o DAX, de
Frankfurt, subiram, respectivamente, 0,32% e 0,27%.
Nos EUA, índices derretem
Os principais índices dos EUA, contudo, seguiram o mesmo caminho: derreteram. O S&P 500 recuou 2,80%; o Dow Jones, 2,10%; e o Nasdaq, que concentra ações de tecnologia, 3,80%.
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