Montagem iG / Imagens: Tomaz Silva/Agência Brasil; Antônio Cruz/Agência Brasil; e Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
O Fantástico conseguiu, com exclusividade, acesso a 55 áudios que circulavam em grupo de militares de alta patente que, de acordo com a investigação da Polícia Federal (PF), preparavam uma trama golpista após o segundo turno das eleições de 2022.
Segundo a PF, Mario Fernandes, general da reserva e ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, foi o articulador do plano, que envolvia uma conspiração para matar o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, seu vice, Geraldo Alckmin, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
"Qualquer solução, caveira, tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, sem quebrar cristais", diz áudio atribuído ao general Mário Fernandes.
O general se mostra exaltado em várias conversas.
"Tá na cara que houve fraude. Tá na cara. Não dá mais pra gente aguardar essa p...", diz Mário Fernandes em outro áudio.
Nesse áudio, de 4 de novembro de 2022, ele alega, sem provas, que houve fraude na eleição. Pessoas próximas a Mario Fernandes e oficiais do Exército responderam assim:
"Eu tô pedindo a Deus pra que o presidente tome uma ação enérgica e vamos, sim, pro vale tudo. E eu tô pronto a morrer por isso", afirma participante do grupo, não identificado.
"O presidente tem que fazer uma reunião com o petit comité. Esse pessoal acima da linha da ética não pode estar nessa reunião. Tem que ser a rataria. Tem que debater o que vai ser feito", afirma um oficial do Exército.
Comunicação com acampamentos em frente a quartéis
A investigação afirma ainda que os acampamentos em frente a quartéis no final de 2022 faziam parte de um movimento orquestrado pelos militares e que o general Mário Fernandes se comunicava frequentemente com esses grupos.
"Talvez seja isso que o alto comando, que a defesa quer: o clamor popular, como foi em 64. Nem que seja pra inflamar a massa, para que ela se mantenha nas ruas", afirma o general em áudios que circulavam nos grupos golpistas.
Em um outro áudio, Fernandes disse que teve uma conversa com o então presidente Jair Bolsonaro, sobre a diplomação da chapa Lula e Alckmin, no TSE.
"Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição? Qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro. Tudo. Mas aí na hora: pô, presidente. A gente já perdeu tantas oportunidades", mostra o áudio.
No dia 12 de dezembro, data da diplomação, manifestantes tentaram invadir o prédio da PF e incendiaram carros e ônibus em Brasília.
"O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o c... Quatro linhas da Constituição é o c... Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa", afirmou um oficial do Exército.
A investigação apontou que o agente da Polícia Federal Wladimir Matos passou ao grupo que planejava o golpe de Estado informações sobre a equipe de segurança e a localização de Lula.
A investigação, concluída pela PF na quinta-feira (21), levou ao indiciamento de 37 pessoas. Entre os nomes, estavam:
O Fantástico procurou os advogados de defesa do general Mário Fernandes e do Policial Federal Wladimir Matos, presos nesta semana pela Polícia Federal, mas eles não foram localizados.
Procurou também a defesa do tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira, o outro preso citado na reportagem, mas não obteve resposta.
Em nota divulgada no domingo (24), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) reafirmou o apoio às instituições e à Constituição, e defendeu que lideranças políticas incentivem seus partidários a se afastarem de atos de violência e de terrorismo político.
A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) também se manifestou. A organização disse que fatos que atentem contra a segurança e a integridade pessoal de agentes públicos configuram grave ameaça ao Estado Democrático de Direito. Para a associação, essas práticas devem ser combatidas com o rigor da lei.
Outra entidade a se manifestar foi a Associação dos Magistrados Brasileiros, que afirmou que um Poder Judiciário independente e sem receio de represálias em razão de suas decisões é essencial para a democracia. Disse ainda que o funcionamento regular das instituições é uma garantia para os direitos fundamentais da população.
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