Foto: Edson Gabriel/Rede Amazônica
O Rio Madeira alcançou a cota de 40 centímetros na sexta-feira (20), estabelecendo uma nova mínima desde que o monitoramento teve início em 1967. Em decorrência da seca extrema, o principal porto de cargas da capital já apresenta uma redução de 60% no transporte de mercadorias. Através das águas do Madeira, forma-se um corredor logístico crucial. Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), a hidrovia do rio é uma das mais importantes vias de transporte da região Norte, com mais de 1.000 km² de extensão navegável.
Desde julho, embarcações estão proibidas de navegar no período noturno devido à seca. Essa limitação impacta o tempo de transporte de cargas, incluindo combustíveis. Naquela época, o nível do rio era de 3,75 metros. As cargas partem das cidades de Itacoatiara ou Manaus, ambas no Amazonas, com destino a Porto Velho. O trajeto, que normalmente leva de 7 a 8 dias de balsa, agora pode durar entre 18 e 20 dias devido à proibição da navegação noturna durante o período de estiagem.
Desde julho, o nível do rio Madeira já caiu mais de 3 metros, tornando a navegação um desafio mesmo durante o dia. No último fim de semana, uma balsa carregada com veículos colidiu com pedras e ficou parcialmente submersa no rio. O aparecimento de bancos de areia no leito do rio tem se tornado cada vez mais frequente. Em nota, a Marinha informou que está monitorando o nível da água e possíveis acidentes por meio do Plano de Ação da Seca de 2024. Como resultado da seca, o principal porto de cargas da capital já registrou uma queda de 60% no transporte de granéis sólidos, como milho, soja e fertilizantes.
"Este momento é distinto do que já vivemos. Estamos enfrentando grandes dificuldades em relação ao calado do rio. As embarcações estão encalhando devido ao surgimento de novos bancos de areia e pedras, além da fumaça, que reduz a visibilidade e aumenta o risco de acidentes", relata Fernando César, presidente da Sociedade de Portos e Hidrovias do Estado de Rondônia (SOPH).
Atualmente, a falta de produtos e insumos essenciais ainda não é sentida, mas há a possibilidade de que os preços para os consumidores aumentem. "A logística se torna mais cara; o envio de cargas demora mais, requer mais cuidados e resulta em maior consumo de combustível e insumos. É difícil prever o impacto nos custos e na economia de Rondônia e Amazonas, mas há a possibilidade de que o consumidor final sinta essa alteração."
Entenda o cenário
Historicamente, os meses de outubro e novembro são os períodos em que o Madeira apresenta níveis mais baixos. No entanto, o nível do rio começou a registrar mínimas históricas já em julho, e o cenário se agravou desde então. Segundo o engenheiro hidrólogo e pesquisador em geociências pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), Marcus Suassuna, a escassez das águas é causada por dois fatores:
Famílias ribeirinhas estão vivendo com menos de 50 litros de água por dia em razão da seca histórica, quantidade que representa menos da metade dos 110 litros diários considerados necessários pela Organização das Nações Unidas (ONU) para suprir as necessidades básicas de uma pessoa.
Portal SGC