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A BR-364 é a rodovia mais importante de Rondônia, ligando Porto Velho a Vilhena, na divisa com o Mato Grosso. Com quase 700 km de extensão, essa estrada é fundamental para o transporte de grãos como soja e milho, além de combustíveis e outros produtos que seguem para o Porto de Porto Velho, de onde são enviados pelo rio Madeira para outras regiões do país.
No início de 2025, o governo concedeu a administração dessa rodovia à iniciativa privada por 30 anos. O consórcio responsável deve investir R$ 6,35 bilhões em melhorias, como duplicação de trechos, construção de novas faixas e passagens para animais, além de outros R$ 3,88 bilhões na manutenção da estrada ao longo desse período. A expectativa é que essas obras tornem o transporte mais rápido, seguro e barato, beneficiando não só os produtores rurais, mas toda a população que depende dessa rota.
COBRANÇA DE PEDÁGIO ANTECIPADA PREOCUPA
No entanto, ainda há dúvidas sobre como esses investimentos serão feitos na prática. Enquanto o governo e as empresas garantem que a rodovia será modernizada, produtores e caminhoneiros preocupam-se com os custos do pedágio e o tempo que levará para as obras ficarem prontas. O desafio será equilibrar esses interesses para que a BR-364 realmente se torne um motor de desenvolvimento para Rondônia.
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IMPORTÂNCIA DA BR-364 PARA RONDÔNIA
A modernização da BR-364, com a duplicação de 107 km e a implantação de terceiras faixas, deve trazer ganhos concretos para a economia de Rondônia. Ao facilitar o tráfego de caminhões, a obra reduzirá o tempo de viagem entre Porto Velho e Vilhena, diminuindo também os gastos com combustível e manutenção de veículos. Esse avanço é especialmente relevante para o agronegócio, já que a rodovia é a principal rota de escoamento da soja e do milho produzidos não só no estado, mas também em partes do Mato Grosso.
Os benefícios vão além do transporte de grãos. A expectativa é que a rodovia modernizada atraia empresas de diferentes setores, desde agroindústrias até centros de distribuição, gerando empregos e movimentando a economia regional. Essa transformação já ocorreu em outras regiões do país onde investimentos em infraestrutura logística impulsionaram o desenvolvimento econômico.
A modernização da BR-364, apesar de seu potencial para impulsionar a economia de Rondônia, divide opiniões devido às condições estabelecidas no contrato de concessão. A ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) ressalta os avanços previstos, como a criação de milhares de empregos e medidas para reduzir acidentes, incluindo a instalação de estruturas de segurança e áreas de descanso. Um dos pontos positivos é a antecipação de melhorias no acesso ao porto de Porto Velho, que deve facilitar o escoamento de mercadorias.
No entanto, empresários e transportadores temem que os custos superem os benefícios no curto prazo. O pedágio elevado, por exemplo, pode encarecer significativamente o transporte de cargas, pressionando os preços de produtos essenciais. Outra questão é o ritmo das obras - apenas uma pequena parte da rodovia será duplicada nos primeiros anos, mantendo gargalos logísticos por um período prolongado. Comunidades locais, incluindo indígenas, também questionam a falta de diálogo sobre os impactos do projeto em suas regiões.
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Como destacou Hélio Dias, da Faperon: "É preciso garantir que os investimentos se traduzam em melhorias reais antes de cobrar valores altos pelos pedágios." Já o senador Marcos Rogério defende ajustes no contrato para equilibrar os prazos das obras e os custos para os usuários. O desafio, portanto, é conciliar a necessidade de infraestrutura com um modelo que não sobrecarregue produtores e consumidores.
PROPOSTA BUSCA SOLUÇÃO PARA BR-364 SEM PREJUDICAR TRANSPORTADORES
Diante desses desafios, surgem propostas para melhorar o modelo de concessão. O ex-senador Acir Gurgacz, representante do setor de transportes, defende a injeção de recursos federais para ampliar o escopo das obras: "Não podemos cancelar o contrato, mas o governo pode complementar os investimentos para duplicar mais trechos e reduzir o valor dos pedágios", explicou Gurgacz.
Essa solução híbrida, que combina capital público e privado, ganhou força porque muitos temem que o pedágio alto e as obras demoradas possam encarecer produtos e prejudicar a economia da região."Assim a rodovia ficaria pronta mais rápido e com menos custo para quem vive do transporte de carga", completou.
Gurgacz reforça ainda que "a BR-364 não é uma estrada qualquer - é o caminho do nosso progresso. Se não fizermos direito agora, a população e os produtores vão pagar caro por muitos anos".
Enquanto a ANTT garante que a cobrança de pedágio só ocorrerá após a execução das melhorias previstas no pavimento, uma alternativa ganha espaço no debate político: a proposta de um modelo híbrido que mescle investimentos públicos e privados. Essa abordagem poderia ampliar o alcance das duplicações e antecipar trechos considerados urgentes pelo setor produtivo, respondendo às críticas sobre o cronograma extenso do projeto atual.
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HIDROVIA DO RIO MADEIRA
Outro fator estratégico é a integração da BR-364 com a hidrovia do Rio Madeira, que pode criar um corredor logístico estratégico para Rondônia. Produtos transportados pela rodovia até Porto Velho podem seguir viagem pela hidrovia até os portos da região Norte, em uma rota que, segundo estudos da ANTT, reduz em 24% os custos de transporte comparado a outros trajetos. Dados do Ministério da Infraestrutura indicam que esta conexão multimodal pode diminuir em 30% o tempo de deslocamento de grãos até os portos de exportação.
A complementaridade entre os dois modais de transporte - rodoviário e hidroviário - está prevista nos contratos de concessão, que estabelecem prazos para a conclusão das obras e metas de redução de tarifas. A PRF registra que 65% da produção agrícola de Rondônia depende atualmente da BR-364 para escoamento, o que reforça a necessidade de coordenação entre os projetos de modernização da rodovia e da hidrovia.
O Governo Federal informou que monitora o cumprimento dos prazos estabelecidos nos contratos, que preveem fiscalização regular dos investimentos em infraestrutura.
Natália Figueiredo - Portal SGC