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O podcast Põe na Bancada trouxe, em seu episódio mais recente, uma análise detalhada sobre os efeitos do chamado "tarifaço" do presidente Donald Trump sobre produtos brasileiros e como essa medida repercute na economia de Rondônia. Conduzida por Roberto Sobrinho, a conversa reuniu Gilberto Batista, superintendente da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (Fiero), e Adélio Barofaldi, presidente da Associação dos Pecuaristas de Rondônia (APROM) e do Grupo Rovema.
A economia rondoniense em números
Segundo os convidados, Rondônia consolidou sua economia nos últimos dez anos com base no agronegócio, deixando para trás os ciclos curtos do ouro, da madeira e das hidrelétricas. Hoje, o estado abriga um rebanho de cerca de 20 milhões de cabeças de gado, movimentando R$ 20 bilhões ao ano, além de uma produção de 3,5 milhões de toneladas de soja cultivadas em 700 mil hectares. Apesar da força do setor, 80% das propriedades rurais ainda não têm titulação, o que limita o acesso a crédito e dificulta a modernização produtiva.
A pecuária leiteira, que já foi um dos motores da renda rural, caiu de 3 milhões para 1,2 milhão de litros de leite por dia, retirando R$ 4 milhões diários da economia do estado. A piscicultura, que chegou a 100 mil hectares de lâmina d’água, hoje ocupa apenas 60 mil, em parte pela ausência de industrialização do pescado, o que torna espécies como o tambaqui menos competitivas fora da região.
Trump, tarifas e geopolítica
As tarifas impostas pelos Estados Unidos afetam de forma direta apenas 5% das exportações rondonienses, mas o impacto indireto preocupa. "Quando um estado brasileiro deixa de exportar para os EUA, passa a competir internamente com Rondônia. O risco maior não é perder clientes lá fora, mas enfrentar a concorrência dentro do Brasil", avaliou Gilberto Batista.
No caso da carne, o impacto é ainda mais sensível. As exportações rondoniense para os Estados Unidos vinham em expansão — de 2% em 2024 para quase 10% no primeiro semestre de 2025 —, mas a tendência é de redução com a sobretaxa anunciada por Trump.
Já a soja, embora alvo da pressão americana para que a China privilegie o produto dos EUA, encontra mercados alternativos na Europa e na Ásia.
O debate também destacou que, por trás da retórica tarifária, há interesses geopolíticos ligados a minerais estratégicos, à disputa entre BRICS e Estados Unidos e ao avanço da desdolarização global.
Sustentabilidade e modernização
Tanto Batista quanto Barofaldi reforçaram que não há mais necessidade de desmatamento em Rondônia para expandir a produção. Com tecnologia e recuperação de áreas degradadas, seria possível triplicar a produção agrícola sem derrubar uma árvore.
No entanto, a falta de regularização fundiária e de políticas de Estado ainda abre espaço para invasões, queimadas e uso de terras públicas sem controle. Segundo dados citados no programa, 95% do desmatamento recente ocorreu em áreas sem titulação. Esse cenário coloca em risco a imagem dos produtos rondonienses diante de regras internacionais cada vez mais rígidas sobre rastreabilidade e sustentabilidade.
O futuro da logística e da competitividade
As obras de infraestrutura anunciadas pelo presidente Lula também entraram em pauta. A ponte binacional Brasil-Bolívia e a ferrovia bioceânica, que ligará Porto Velho ao Pacífico, foram apontadas como estratégicas para transformar Rondônia em um hub logístico nacional.
"Imagine o nosso grão saindo de Porto Velho em direção ao Porto de Chancay, no Peru, numa rota cerca de 1.500 km mais curta — e, sobretudo, que dispensa a travessia pelo Canal do Panamá, encurtando em 15 dias o frete até a China, nosso maior mercado. É uma mudança de patamar para o agronegócio brasileiro", destacou Batista.
Na mesma linha, Adélio Barofaldi lembrou que essa infraestrutura não beneficia apenas a soja e a carne, mas também a Zona Franca de Manaus, que depende fortemente da importação de insumos vindos da Ásia, sobretudo da China. Hoje, esses componentes chegam por rotas longas e caras pelo Canal do Panamá. Com a nova rota bioceânica via Porto de Chancay, a ZFM teria redução de custos na entrada de insumos e maior agilidade logística para exportar produtos finais, ampliando sua competitividade internacional.
Para Barofaldi, o desafio está em organizar os produtores, garantir regularização fundiária e ampliar a industrialização do agro, para que Rondônia deixe de ser apenas fornecedora de commodities e consiga agregar valor localmente.
Síntese
O episódio mostrou que, embora as tarifas de Trump não atinjam de forma devastadora Rondônia, elas expõem fragilidades estruturais da economia regional — da dependência de commodities à ausência de industrialização e titulação fundiária. Ao mesmo tempo, reforçou a importância das políticas de Estado e dos investimentos em infraestrutura para inserir Rondônia em novos corredores globais de exportação.
"O que acontece em Washington impacta a vida de quem vive em Rondônia, seja direta ou indiretamente. É preciso estar preparado", concluiu Roberto Sobrinho ao encerrar o programa
Assista ao episódio completo no YouTube: https://youtu.be/rxLgIKxSLKQ
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