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Rondônia entre a fronteira agrícola e o salto industrial: Acir Gurgacz defende nova agenda de desenvolvimento

A conversa, conduzida por Roberto Sobrinho, percorre quatro décadas da história recente de Rondônia e combina memória pessoal


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Rondônia cresceu empurrada pela migração, pela estrada e pela terra. Produziu. Exportou. Consolidou-se como potência agropecuária. Mas, segundo o ex-senador e ex-prefeito Acir Gurgacz, o modelo que sustentou esse avanço começa a mostrar seus limites. No episódio que encerra o ano do podcast Põe na Bancada, Gurgacz articula uma tese clara: o estado precisa dar uma "virada de chave" — sair da lógica primária e avançar para a industrialização do que já produz, com cooperativismo, infraestrutura e coordenação política como eixos.

A conversa, conduzida por Roberto Sobrinho, percorre quatro décadas da história recente de Rondônia e combina memória pessoal, diagnóstico econômico e sinalização política. Ao final, Gurgacz confirma que trabalha uma pré-candidatura ao Senado em 2026, sustentando que o papel do Parlamento federal será decisivo para destravar obras, atrair indústrias e coordenar interesses regionais.

A trajetória como argumento

Gurgacz chegou a Rondônia em 1982, em meio à onda migratória que redesenhou o estado. Filho de uma família ligada ao transporte, conta que começou a trabalhar ainda criança e acompanhou de perto a logística que trouxe milhares de famílias do Sul para a Amazônia. "A política sempre esteve no meio desse desenvolvimento", afirma, ao lembrar da atuação do INCRA, da abertura de linhas de ônibus e do asfaltamento da BR-364.

A experiência como prefeito de Ji-Paraná, segundo ele, foi o ponto de inflexão. "Foi ali que conheci a realidade das pessoas que dependem da escola pública, da saúde pública, da ação social", diz. O aprendizado aparece como base para sua leitura atual: produzir não basta se o estado não transformar produção em qualidade de vida.

Nem esquerda, nem direita — "ser direito"

Em um momento de forte polarização nacional, Gurgacz constrói deliberadamente uma identidade fora do eixo ideológico tradicional. Diz que foi senador durante os governos Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro e que, com todos, buscou apoiar o que considerava positivo para Rondônia.

A recusa ao rótulo aparece como estratégia e como crítica. Para ele, o extremismo "não interessa à população" e desorganiza prioridades. Educação, saúde e geração de emprego, afirma, não deveriam ser bandeiras de um campo contra o outro, mas compromissos permanentes do Estado.

O ponto central: agregar valor

O núcleo do episódio está na defesa da industrialização da produção rondoniense. Gurgacz descreve um estado que hoje lidera indicadores na pecuária de corte, avança rapidamente no plantio de grãos e consolida cadeias como café e cacau. O problema, diz, é que boa parte do valor agregado fica fora.

A solução proposta passa pelo cooperativismo industrial e pela organização de cadeias completas — da produção ao processamento. Ele cita como exemplos a necessidade de frigoríficos de suínos e aves, esmagadoras de soja e fortalecimento das agroindústrias familiares, articuladas com políticas federais como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

O diagnóstico dialoga com um dado sensível: pessoas deixando Rondônia por falta de perspectivas de emprego e indústrias. Para Gurgacz, sem planejamento produtivo, o estado corre o risco de produzir muito e reter pouco.

Infraestrutura como condição de desenvolvimento

A análise retorna, repetidamente, à infraestrutura. A duplicação da BR-364, os avanços na BR-319, a consolidação da hidrovia do Madeira e novas ligações asfaltadas são tratadas como pré-condições para qualquer salto econômico.

Gurgacz chama os gargalos logísticos de "problema positivo": sinal de que a produção cresce mais rápido do que a capacidade de escoamento. Mas alerta que, sem resposta rápida do poder público, o problema vira freio.

Nesse ponto, o argumento ganha contorno político. Muitas das obras citadas são federais. Para ele, o Senado é o espaço institucional para articular recursos, alinhar governos e transformar planejamento em execução.

Saúde: o limite exposto

Se desenvolvimento e logística estruturam a conversa, é a saúde pública que surge como o ponto mais crítico. Gurgacz afirma que a falta de regionalização é hoje o maior gargalo do estado e cita o Hospital Regional de Ariquemes como exemplo de obra que não se concretizou, apesar de recursos disponíveis.

A crítica funciona como contraponto ao discurso produtivo: crescimento econômico sem serviços públicos não fecha a conta social.

2026 e a aposta na credibilidade

Ao falar do futuro político, Gurgacz projeta uma eleição menos movida por rótulos e mais por histórico. "A credibilidade vai pautar 2026", afirma. O passado, diz, será o filtro para avaliar quem cumpre o que promete.

Ele confirma que trabalha uma pré-candidatura ao Senado, com a intenção de retomar uma agenda desenvolvimentista articulada com cooperativas, infraestrutura e governo federal — defendendo diálogo amplo e rejeitando a judicialização da disputa política.

Um fechamento pessoal

O episódio termina longe das planilhas e das estradas. Em clima de Natal, Gurgacz fala da família como base da sociedade e da necessidade de reflexão coletiva. Deseja menos polarização, mais diálogo e projetos que gerem emprego e renda.

Para Roberto Sobrinho, o encerramento do ano com Gurgacz tem valor simbólico. O Põe na Bancada começou e terminou o ano com entrevistas que buscaram a informação sem filtros e sem fake news — uma proposta que dialoga com o próprio tom do episódio: menos barulho, mais substância.

Onde assistir

???? TV Cultura Rondônia

???? RedeTV! Rondônia

?? YouTube — Põe na Bancada

???? https://youtu.be/oVse3dp1S8M

???? Disponível também nas plataformas digitais do programa


Portal SGC



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