IA poderá detectar câncer de laringe pelo som da voz, aponta estudo

O câncer de laringe é um problema de saúde pública que afeta mais de um milhão de pessoas no mundo. Em 2021, foram registrados cerca de 1,1 milhão de casos e 100 mil mortes. Tabagismo, consumo excessivo de álcool e infecção pelo papilomavírus humano (HPV) estão entre os principais fatores de risco.

O diagnóstico precoce aumenta as chances de tratamento e sobrevida, mas hoje ele depende de exames invasivos como videoendoscopia e biópsia. Além disso, a busca por especialistas pode atrasar a detecção da doença, reduzindo as possibilidades de um prognóstico mais favorável.

Pesquisadores da Oregon Health & Science University, nos Estados Unidos, demonstraram que a inteligência artificial pode identificar alterações nas pregas vocais a partir de gravações de voz e auxiliar na detecção do câncer de laringe ainda em fase inicial. O estudo foi publicado na revista Frontiers in Digital Health nessa segunda (11/8) .

Como funciona a tecnologia de IA

O estudo analisou a relação entre características acústicas da voz e a presença de lesões nas pregas vocais. Essas lesões podem ser benignas, como nódulos e pólipos, ou malignas, como nos primeiros estágios do câncer de laringe.

Os cientistas utilizaram dados do projeto Bridge2AI-Voice, do Instituto Nacional de Saúde dos EUA, para fazer a análise. Foram examinadas 12.523 gravações de voz de 306 participantes da América do Norte, incluindo pacientes com câncer, lesões benignas e outros distúrbios da caixa vocal.

Entre as variáveis avaliadas estavam o tom médio, a variação do tom (jitter), a variação da amplitude (shimmer) e a relação harmônico-ruído — que mede a proporção entre sons harmônicos e ruídos na fala.

Resultados da IA na análise da voz para detectar câncer

O estudo identificou diferenças significativas em duas características acústicas — a relação harmônico-ruído e a frequência fundamental (tom médio) — nas vozes de homens com câncer de laringe, lesões benignas nas pregas vocais e com vozes saudáveis, sem qualquer distúrbio vocal.

Essas diferenças indicam que a voz dos pacientes apresenta padrões específicos que podem ser usados para identificar alterações precoces nas pregas vocais.

Por outro lado, entre as mulheres participantes, não foram encontradas diferenças acústicas claras que distinguissem os grupos. Os pesquisadores explicam que isso pode estar relacionado ao tamanho menor da amostra feminina e que estudos com conjuntos de dados maiores podem revelar padrões semelhantes.

De acordo com os autores, a variação na relação harmônico-ruído pode servir como um biomarcador vocal importante para monitorar a progressão clínica das lesões e para detectar o câncer de laringe em estágios iniciais, principalmente em homens, abrindo caminho para um diagnóstico menos invasivo e mais acessível.

Próximos passos

A equipe pretende ampliar o banco de dados para incluir mais gravações, especialmente de mulheres, e testar os algoritmos em ambiente clínico. A expectativa é que ferramentas de IA para essa finalidade possam entrar em fase de testes piloto nos próximos dois anos.

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