O anúncio da implantação do primeiro Hospital Municipal Universitário (HMU) de Rondônia representa um marco significativo para a cidade de Porto Velho. Esta iniciativa, fruto da parceria entre a administração municipal e a Universidade Federal de Rondônia (Unir), promete transformar não apenas o cenário da saúde pública local, mas também o panorama da formação profissional em saúde no Estado.

A criação de um hospital-escola traz benefícios que transcendem o atendimento médico imediato. Ao servir como campo de estágio para estudantes de medicina, enfermagem, fisioterapia e nutrição, a unidade proporcionará um ambiente de aprendizado prático fundamentado na realidade local, algo essencial para a formação de profissionais alinhados às necessidades regionais. O aumento previsto de 40 para 100 vagas no curso de medicina da Unir evidencia o potencial transformador desse projeto para a educação superior em Rondônia.

Do ponto de vista administrativo, a escolha pela aquisição de uma estrutura hospitalar já existente demonstra pragmatismo e senso de urgência. A gerência pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), instituição que administra 45 hospitais universitários federais, traz a expertise necessária e um modelo de gestão já testado em outras regiões do país, o que pode acelerar a efetiva operacionalização do hospital.

Contudo, é preciso considerar os desafios financeiros e operacionais envolvidos. Os dados apresentados pela Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) revelam que o custo anual de manutenção de leitos hospitalares ultrapassa a capacidade orçamentária atual do município. A necessidade mínima de 150 leitos representa um investimento de cerca de R$ 270 milhões anuais, montante significativo que demandará planejamento orçamentário cuidadoso e possivelmente novas fontes de financiamento.

Além disso, será fundamental garantir que a transição de um hospital privado para uma instituição pública de ensino ocorra sem prejuízos à continuidade dos serviços prestados à população. A avaliação técnica da Ebserh, prevista para março, será determinante para assegurar que a estrutura adquirida atenda adequadamente às necessidades pedagógicas e assistenciais.

O HMU representa uma oportunidade única para desafogar o sistema de saúde estadual e municipal, ampliar o acesso da população a serviços especializados e elevar o patamar da formação acadêmica em saúde na região. Se bem implementado, poderá se tornar referência para outras cidades do interior do país que enfrentam desafios semelhantes.

A implantação do Hospital Municipal Universitário também terá efeitos catalisadores sobre a economia local. A atração de pesquisadores, professores e estudantes de outras regiões do país tende a fortalecer o setor de serviços e o mercado imobiliário da capital.

Além disso, a produção acadêmica e os projetos de pesquisa gerados pelo HMU poderão desenvolver soluções adaptadas às peculiaridades epidemiológicas da Amazônia, contribuindo para o enfrentamento de doenças tropicais negligenciadas. Esta valorização do conhecimento regional, associada à melhoria da assistência médica, representa um passo decisivo no fortalecimento da autonomia científica e sanitária de Rondônia.

Diário da Amazônia