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Maus-tratos aos animais revelam falhas graves em nossa civilidade

Confira o editorial


O episódio ocorrido na Avenida Almirante Barroso, em Porto Velho, onde uma cadela foi arrastada amarrada a uma motocicleta, expõe uma face sombria que nossa sociedade precisa enfrentar com urgência. A brutalidade dessa cena, felizmente interrompida pela intervenção de agentes rodoviários, não representa um caso isolado, mas sim um sintoma de um problema social mais profundo relacionado à falta de empatia e respeito pela vida animal.

A crueldade contra animais não é apenas um ato condenável em si mesmo, mas também um indicador preocupante. Estudos consistentes na área de criminologia apontam correlações significativas entre abusos contra animais e outros comportamentos violentos direcionados a pessoas. Este é um alerta que nossa comunidade não pode ignorar.

Precisamos refletir sobre os valores que estamos propagando. Uma sociedade verdadeiramente evoluída protege os mais vulneráveis, sejam eles humanos ou animais. A progressiva criminalização dos maus-tratos a animais em nossa legislação reconhece esta verdade fundamental, mas a aplicação efetiva da lei ainda enfrenta obstáculos consideráveis.

O gesto solidário dos policiais, que não apenas interromperam o ato cruel mas também se mobilizaram para garantir atendimento veterinário, exemplifica a postura cidadã que devemos adotar coletivamente. No entanto, não podemos depender apenas da boa vontade individual ou de intervenções fortuitas para proteger vidas indefesas.

Diante de situações como essa, é imperativo que as autoridades municipais e estaduais implementem políticas públicas robustas de proteção animal, desde campanhas educativas até o fortalecimento dos órgãos de fiscalização. A responsabilidade também recai sobre cada cidadão, que deve denunciar casos de maus-tratos e exigir punições adequadas.

As penas para crimes contra animais foram significativamente aumentadas nos últimos anos, no arcabouço jurídico do país, podendo chegar a cinco anos de reclusão em casos graves. No entanto, a sensação de impunidade persiste, alimentada por processos lentos e penalidades frequentemente brandas na prática.

A sociedade tem papel fundamental neste cenário, seja através de ONGs de proteção animal ou pela mobilização comunitária. É necessário um esforço conjunto para transformar a indignação momentânea em mudança efetiva de comportamentos e políticas públicas. O caso da cadela arrastada pelas ruas de Porto Velho deve servir como catalisador para uma reflexão profunda sobre nossa relação com os animais e nosso compromisso com uma sociedade menos violenta. A verdadeira medida de nossa civilidade está na forma como tratamos os mais vulneráveis.


Diário da Amazônia

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