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Debate sobre trânsito de carretas evidencia importância de soluções compartilhadas

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A decisão de suspender, ao menos temporariamente, a restrição de circulação de carretas durante os horários de pico na principal avenida de Porto Velho é um capítulo relevante do debate urbano que envolve mobilidade, economia e segurança. O tema exige análise cuidadosa, pois afeta diretamente tanto a dinâmica da cidade quanto o fluxo logístico fundamental para a região.

A portaria, que restringiria veículos de grande porte com peso bruto superior a 23 toneladas das 6h às 9h e das 17h às 20h, se baseava em estudos técnicos. Esses estudos apontavam que a presença de carretas em horários de maior movimento aumentava significativamente o risco de acidentes e agravava os congestionamentos. A justificativa é sólida: grandes caminhões, ao ocuparem parte das faixas e cruzamentos, limitam a fluidez do trânsito e, por sua visibilidade reduzida e manobras mais lentas, potencializam situações de risco para veículos menores, motocicletas, ciclistas e pedestres.

Por outro lado, é fundamental ponderar os efeitos colaterais de uma medida como esta. O transporte de cargas é vital para o abastecimento da cidade e para a economia local. Limitar horários pode gerar gargalos logísticos, atrasos na entrega de mercadorias e impacto financeiro para empresas e transportadoras, especialmente aquelas que trabalham com produtos perecíveis ou operam sob contratos rígidos de entrega. Além disso, há o risco de transferência do problema para outros horários, concentrando o fluxo de carretas em períodos alternativos e, possivelmente, criando novos pontos de estrangulamento no trânsito.

A suspensão anunciada pelo órgão federal indica o reconhecimento de que decisões dessa magnitude não podem ser tomadas de forma unilateral ou apressada. É necessário diálogo entre todas as partes afetadas: gestores do trânsito, setor de transporte, comércio, moradores e especialistas em mobilidade urbana. O objetivo deve ser encontrar soluções equilibradas que promovam a segurança viária sem comprometer o abastecimento e a atividade econômica.

Uma alternativa viável pode ser investir em rotas alternativas fora do perímetro urbano para veículos pesados, promover o escalonamento de entregas ou até mesmo adotar tecnologias que melhorem o controle e monitoramento do tráfego. O planejamento eficiente, aliado à participação social e à transparência das decisões, aumenta a chance de êxito de qualquer política pública voltada ao trânsito.

Por fim, o caso serve de alerta para a necessidade de políticas públicas baseadas em dados, mas também em diálogo e flexibilidade. O trânsito de uma capital não é estático e as demandas sociais, econômicas e de segurança mudam com frequência. O compromisso deve ser sempre com o interesse coletivo, buscando o equilíbrio entre mobilidade eficiente e desenvolvimento sustentável.


Diário da Amazônia

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