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Democracia exige respeito mútuo para que ideias coexistam livres

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Os episódios de intolerância registrados recentemente no ambiente universitário acendem um alerta grave sobre os rumos da convivência democrática no país. A universidade, espaço destinado à reflexão crítica, à troca de ideias e à construção do conhecimento, tem sido palco de conflitos que extrapolam o debate acadêmico e se transformam em atos de hostilidade e violência. Quando ofensas verbais e agressões físicas substituem a argumentação e o contraditório, perdem não apenas os envolvidos diretamente, mas toda a sociedade

O ocorrido na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná é emblemático. Não se trata apenas de um ato isolado de desrespeito contra uma professora, mas da demonstração de como discursos radicais, quando legitimados por setores sociais e políticos, podem se converter em ações concretas que atingem indivíduos, famílias e instituições. A violência verbal e física, mesmo quando dirigida a uma única pessoa, simboliza uma tentativa de silenciar posições divergentes e enfraquecer os pilares do diálogo democrático.

Outro episódio recente, também dentro da universidade, reforça esse quadro preocupante. O bloqueio de estudantes ao evento que previa a participação de representantes da vida pública resultou em confronto e terminou com excessos na resposta das forças de segurança. O impasse revelou que, de lado a lado, a dificuldade em lidar com o contraditório vem substituindo a disposição ao debate respeitoso. A universidade, que deveria ser ambiente de aprendizado e confronto de ideias, torna-se, nesse contexto, um terreno de disputas que fragilizam sua missão essencial.

É preciso reconhecer que a polarização política tem alimentado episódios como esses, mas é igualmente necessário ressaltar que a liberdade de expressão não se confunde com a liberdade de agredir. O direito de manifestar opiniões, sejam elas conservadoras, progressistas ou críticas às instituições, precisa conviver com o dever de respeito mútuo. O oposto disso leva a uma escalada de tensões que ameaça tanto a integridade física e psicológica das pessoas quanto a qualidade do ambiente acadêmico.

Defender a democracia significa, antes de tudo, defender o pluralismo. Nenhuma visão de mundo, por mais majoritária que se torne em determinados momentos, pode pretender eliminar ou calar a outra. Isso vale para quem ocupa posições de destaque e para quem atua nas fileiras estudantis. Todos têm direito à palavra, e todos devem ser igualmente protegidos contra agressões.

O caminho para reverter esse cenário passa pela reafirmação das instituições em favor da civilidade, mas também pela responsabilidade de cada indivíduo. O respeito à diferença é condição mínima para o convívio democrático. Sem ele, a universidade perde sua essência, a sociedade se fragiliza e a democracia se esvazia.


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