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Operações no campo expõe dilema entre ordem e segurança

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Divulgação/LCP

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O confronto ocorrido no distrito de Jaci-Paraná, em Porto Velho, que resultou na morte de um homem e no ferimento grave de uma mulher, expõe uma realidade que o país ainda não conseguiu superar: a fragilidade da presença do Estado em áreas de conflito fundiário. O episódio, ocorrido durante o cumprimento de mandados judiciais ligados à Operação Godos, recoloca no debate público o equilíbrio entre o uso legítimo da força e a proteção da vida em ações de repressão criminal.

As operações de grande porte, articuladas entre diferentes órgãos, representam um esforço necessário de enfrentamento a grupos que desafiam a lei e a autoridade pública. Contudo, o desenrolar das ações demonstra a complexidade de atuar em regiões onde os limites entre criminalidade e disputa por território se confundem. Nessas áreas, o risco de que cidadãos desarmados ou em situação de vulnerabilidade sejam atingidos aumenta de forma significativa.

É dever das instituições zelar para que a repressão ao crime não se traduza em novos episódios de violência. O objetivo central das operações deve ser a aplicação da lei com rigor, mas também com observância plena aos direitos humanos. O respeito às garantias legais e a transparência sobre as circunstâncias que levaram à morte e ao ferimento das vítimas são indispensáveis para manter a confiança da sociedade nas instituições.

As forças de segurança enfrentam desafios reais e diários em contextos de tensão agrária. A atuação policial, em muitos casos, se dá em ambientes hostis, onde predominam a desinformação, a resistência armada e o temor da população local. Ainda assim, a eficiência das ações deve ser medida não apenas pela quantidade de prisões ou apreensões realizadas, mas também pela capacidade de preservar vidas e restabelecer a ordem sem excessos.

O episódio de Jaci Paraná mostra a urgência de uma política pública permanente de mediação e prevenção de conflitos no campo. A repressão isolada, mesmo quando necessária, não é suficiente para resolver a origem das disputas. Falta presença institucional, fiscalização regular e políticas de segurança e desenvolvimento que impeçam o surgimento de novos grupos armados ou de áreas dominadas pela intimidação.

A apuração rigorosa das circunstâncias do confronto deve ocorrer com a mesma energia dedicada à investigação dos crimes atribuídos à organização alvo da operação. Somente com transparência e responsabilidade é possível garantir que a lei seja aplicada de forma justa, sem alimentar a sensação de impunidade ou a percepção de abuso.

Os fatos recentes não podem ser vistos como simples consequência de uma operação policial, mas como um sintoma de um problema mais profundo: a ausência prolongada do Estado em territórios onde predominam o medo e a desordem. A reconstrução da confiança entre autoridades e comunidades rurais depende da capacidade de conciliar firmeza no combate ao crime com a proteção efetiva de todos os cidadãos, inclusive os mais vulneráveis.

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